Publicado em 15/12/2021


Na segunda rodada de debates da Première Brasil na terça-feira, 14/12, o crítico de cinema Marcelo Müller mediou a conversa entre os realizadores Gustavo Rosa de Moura e Matias Mariani, do longa-metragem Cora, e Begê Muniz, diretor do curta Jamary.

A primeira pergunta do mediador foi para a dupla de Cora, questionando as origens da linguagem inventiva da produção, que acompanha uma investigação registrada num documentário fictício inacabado. Matias diz que o projeto nasceu do livro Antonio, escrito por sua mãe, Beatriz Bracher, e considerado por ele inadaptável por conta de sua estrutura peculiar. Gustavo, porém, teve a ideia de usar os dispositivos de documentário para fazer a adaptação e convidou Matias, que achou uma boa. Gustavo complementa afirmando que o objetivo da dupla era experimentar outras formas de narrativa e o trabalho exigiu acréscimo de coisas, criação de personagens e uma guinada arqueológica que os levou inclusive a catar filmes em Super-8 de pessoas aleatórias. Um dos grandes desafios foi a composição das imagens de arquivo vistas na trama, em alguns casos corrompidas por meio de softwares e envelhecidas tecnicamente, em outros realmente relíquias encontradas através de pesquisas específicas.

Convocado a apresentar Jamary, Begê Muniz explica que a intenção era falar de folclore e, por gostar de suspense, abordar o mitológico e não tão popular Anhangá surgiu como opção. Ele conhecia a criatura dos escritos de Jean de Léry e enxergou a oportunidade de afastar o ser - considerado demoníaco pelos jesuítas - do maniqueísmo. Assinando seu primeiro curta, o diretor revela que a atriz principal é realmente uma youtuber local, as outras crianças são seus primos e o roteiro teve certa inspiração no sucesso de vídeos virais da campanha #PrayforAmazonia.

Um espectador pede maiores detalhes sobre como funcionou a produção de Cora e Gustavo comenta que, apesar de ter roteiro, o longa foi praticamente escrito na montagem, como geralmente ocorre com documentários, e filmado sem fotógrafo, com equipe reduzida e de forma bem simples, quase amadora. O que teve bastante foi preparação de elenco, contribuições e trabalho na edição, tanto de imagem (com colaboração de três montadores) quanto de som (mixado fora do Brasil).

Para encerrar, os cineastas foram convidados a falar sobre a emoção do retorno ao cinema após tanto tempo de pandemia. Begê comemora a estreia como diretor no Festival do Rio, dez anos depois de ter vindo apresentar, como ator, A floresta de Jonathas; Matias ressalta o respeito e admiração pelo esforço da realização do Festival este ano; e Gustavo diz esperar que os cinemas de rua da cidade não sejam perdidos por conta do baque: "Nada contra ver filme em casa, mas não pode ser a única opção.".

Texto: Taiani Mendes
Foto: Frederico Arruda

O Festival do Rio tem o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da RioFilme, órgão que integra a Secretaria de Governo e Integridade Pública.



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