Publicado em 08/10/2013

Por Fernando Flack

A diretora britânica Beeban Kidron é conhecida em sua terra natal como “Baronesa Kidron” por ser uma das pioneiras na difusão de cineclubes escolares por todo o Reino Unido através do projeto FILMCLUB, além de ser a realizadora de excelentes produções para o canal inglês BBC e de filmes conhecidos do grande público como Bridget Jones: no limite da razão (2004) e Para Wong Foo, obrigada por tudo! Julie Newmar (1995).

Marcando presença no Festival do Rio, Beeban apresenta ao público carioca o seu novo filme vidareal.com (2013), que acompanha o cotidiano de adolescentes na Inglaterra que navegam por horas pelos mais variados sites da internet.

vidareal.com é um filme para pais e filhos assistirem juntos, e desperta interessantes discussões sobre a relação entre os jovens da chamada “geração @” com os smartphones e as redes sociais, além de também tratar do atual processo de abandono dos antigos veículos midiáticos e de comunicação (como a televisão, o rádio, telefones e cartas) por essa mesma geração.

A diretora estará presente hoje a sessão do filme no Oi Futuro Ipanema, às 18h30. Ela debaterá seu trabalho com o público logo após a exibição.

Seu filme levanta questões sobre as relações entre o ser humano, especialmente os adolescentes, e o novo mundo da internet. Mas pra você, o que é exatamente esse novo mundo?

No início nós víamos a internet como uma revolução na comunicação, que iria transformar o mundo em algo democrático e livre. Achávamos que essa nova ferramenta iria nos transformar em seres mais abertos. E a pergunta mais comum desde então é: o que é a internet? Passamos três anos pesquisando sobre isso e uma das conclusões a que chegamos é que a internet é algo que está organizando a sociedade tecnológica. Não é só sobre comunicação, mas como a nossa sociedade está se organizando. E isto acontece de maneira muito rápida, com algumas concentrações de poder em certos lugares e redistribuição em outros. Acho que ainda temos pouca discussão sobre tudo isso. Eu poderia ter feito um grande quadro do tipo “O que é a internet ?”, “Quem a faz ?”, ”Onde ela atua ?”, “Por que não a entendemos ?”, mas escolhi focar neste significante grupo [os adolescentes] porque eles não conhecem quase mais nada do chamado velho mundo. Os jovens do meu filme não sabem como atender ao telefone, marcar encontros ou enviar cartas.

Você acha que as novas gerações possam ter um interesse maior pela vida virtual do que pela vida real, como numa espécie de “avatarização” da vida ?

Esse é um tema muito complicado. Por exemplo, esta manhã eu conversei por Skype com a minha filha de 16 anos, que está na Inglaterra enquanto estou aqui no Rio. Como isso é incrível hoje! Ela tinha muitas novidades, preocupações, porque está começando a faculdade, e nós podemos conversar a distância sobre tudo isso. E podemos conversar livremente. Não há como negar que isso é útil e importante para o nosso dia a dia. Então, eu acho que é muito difícil sugerir um futuro para a internet. Em alguns casos pode até ser ridículo, porque qualquer coisa sobre ela é problemático e muda muito rápido. Podemos imaginar situações em que guardamos gravações ou arquivos de nossa vida privada, porque isso nos será útil de alguma forma, e depois alguns desses materiais se tornam públicos. Isso pode ser um grande problema, mas até quando o valor do “privado” será relevante? Lógico que isso pode parecer um exagero, mas são consequências desse novo mundo. A forma que a internet se comporta pode criar essas possibilidades. Então, acho que o que é relevante se discutir sobre esse futuro é a qualidade da informação, a qualidade do que se divulga, e como tudo isso vai interferir nas nossas relações.

Como foi o processo de realização do filme?

Foi bem complicado. As pessoas e empresas que têm algum poder sobre a internet não quiseram falar. Tanto o Google, quanto as empresas de cabos de internet submarinos, entre outras, não liberaram o nosso acesso. O que nos leva ao ponto de que os controladores da internet democrática não são tão democráticos assim. Essa foi a maior dificuldade, porque tivemos que enfrentar portas fechadas o tempo todo. Mas por outro lado, o lado humano e as histórias dos jovens foram muito interessantes. Eu acabei criando laços com vários deles, que foram muito amorosos. Muitos levantaram a questão dos valores. Alguns apontaram que o problema não é a tecnologia, que lhes parece brilhante, mas os valores que se constroem através dela.




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