Publicado em 10/10/2017

Texto Maria Cabeços

Fotos: Brenda Vianna

Nesta segunda-feira (09/10), o Cine Encontro foi sobre Iran, mediado pelo Rodrigo Fonseca. Os participantes da mesa foram o diretor Walter Carvalho e a produtora Lia Gandelman. O filme mostra o processo de preparação do ator Irandhir Santos na imersão do personagem. Inicialmente, Walter Carvalho conta que, assim que percebeu o processo diferenciado de preparação do Irandhir para o papel, o diretor, por curiosidade, registrou os passos do ator.

“Nunca me passou pela cabeça que eu ia fazer um filme sobre um ator”. Foi inclusive essa falta de pretensão que tratou o filme com um tempo mais extenso. “O que me leva a trabalhar com esse tempo dilatado, é o tempo do Irandhir. Se eu utilizasse essas imagens e cortasse, ou até trabalhasse com outro ator que conheço, eu estaria fazendo um filme careta que eu não compreenderia”. Isso interferiu em aspectos da produção, como o foco.

Rodrigo Fonseca, mais uma vez usou o método da noite passada no debate de Aos teus olhos. Ele permitiu que a plateia revelasse as sensações que foram captadas pelo filme. Com isso, a grande questão envolvida é a categorização indefinida da obra em relação não apenas à plateia, mas ao próprio diretor, que possui elementos tanto ficcionais como documentais. “Eu preciso ir perto de um lugar que o perigo abstrato ronda – o perigo daquilo que você não domina - e a minha função é descobrir o que não conheço. Eu vou levar algum tempo da minha vida para descobrir que filme é esse e que tempo dilatado é esse”, revela Carvalho.

O diretor nega o questionamento de Fonseca sobre a sensação de fabulação do filme. Inclusive, houve uma associação da plateia com o âmbito das artes plásticas. “Eu acho que a característica que leva a crer que possa ser um filme para galeria é que as artes plásticas utilizaram a imagem em movimento para criar peças que dilatam o tempo. É uma característica da maioria dos vídeo-arte que se apresentam. Ou é uma pulsação rápida e desesperada ou é uma coisa que nunca tem fim. Evidentemente, se parecem. Contudo, meu sonho não é ver esse filme em uma bienal, mas em uma sala de cinema, onde as pessoas compraram o ingresso”.

O som foi algo muito debatido, já que não é característico em filmes documentais. Além disso, conta como ocorreu “O som é dele. É som do nariz, é som da boca, e tem uns sons que eu colhi no filme. Tem, também, uns sons que estavam com determinadas lacunas”. Conta que para preencher essas lacunas, foi necessário que apagasse a luz para que o artista relembrasse e, então, reproduzisse os mesmos sons da gravação. Além disso, Carvalho possui a necessidade de desconstruir métodos de produção, mas que sente que o filme está indo para um âmbito experimental, o que não é algo que procura. “Onde é que está que o tempo dentro do plano obedece uma regra? O mundo civilizatório que diz que o roteiro tem que ser assim. (...) O tempo não tem uma norma. A única coisa que vende o tempo é a arte”.

Além disso, o diretor faz uma crítica à modernidade e a rapidez atual, que interfere na arte. “Sobre o filme ter um tempo supostamente maior do que parece, me lembrou da velocidade que as coisas estão acontecendo. Você começa a querer ver o filme mais rápido para ir embora. Você tem que ver o filme, tem que ir para casa, tem que olhar o celular. Se os filmes pudessem ser menores, seria melhor para as plateias, porque você resolve logo. Ninguém tem mais tempo para contemplar. No cinema, então, ninguém consegue, porque o celular não deixa”.

Para finalizar, Rodrigo Fonseca cita uma metáfora, o que conclui o debate com maestria. “A  arte é a percepção da nossa solidão. No fundo, quando você se percebe solitário. Você faz filmes para engatar histórias de amor com solidões, que estão te aguardando, mas cujo o nome não sabe. Faço filmes grandes, porque quero que as histórias de amor sejam grandes, como o tempo. Para desafiar o tempo, talvez, além da arte, a única outra coisa que desafia o tempo é o amor”.




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