Publicado em 08/10/2017

Texto: Maria Cabeços

O filme "Aos teus olhos" causa debate agitado neste domingo (8/10), mediado por Rodrigo Fonseca. A mesa era composta pela diretora Carolina Jabor, o roteirista Lucas Paraizo e o supervisor de roteiro George Moura. A obra conta a história de Rubens, um professor de natação infantil, que é acusado de beijar um aluno. A internet foi a principal plataforma de divulgação e julgamento desse caso.

Rodrigo Fonseca sugeriu um novo modelo para o debate. Ele pediu para que a platéia dissesse algumas palavras em relação ao filme. Isso resultou em três temas que foram tratados durante todo esse encontro: culpa, seco – relacionado a síndrome de lágrimas secas de uma pessoa do público que se dizia extremamente emocionada, mas que não conseguia chorar - e moralismo.

O primeiro tema é o principal aspecto do filme no qual oferece ao telespectador a dúvida quanto a culpa do personagem ter de fato praticado o ato de assedio infantil ou não. George Moura conta como foi a construção do protagonista que tem um caráter esse caráter ambíguo, “Essa história é muito interessante com uma temática muito forte. Um dos desafios que tivemos ao construir essa história era como narrar de uma maneira que permanentemente esse personagem nos fizesse achar que ele é culpado, ou ele não é culpado”.

Além disso, associou a história com um livro de Michel Foucault, chamado Eu, Pierre Riviere, sobre o julgamento de um garoto que matou a família. “Ele tinha o hábito de pegar o passarinho e abri-lo. Aí, Foucault diz o seguinte: se o garoto tivesse se transformado em um cirurgião, esse ato seria um sintoma da genialidade. Como ele matou toda a família, era um sintoma de que ele já era um assassino frio desde criança. É muito curioso como, no filme, pequenos gestos, quando surgem as suspeitas, assumem outro significado. 

Acho muito bom quando o cinema investiga as sombras do humano. É para trabalhar as nossas incertezas”. Carolina Jabor acrescenta que isso também influenciou na escolha do ator. “Acho que o Daniel vai de um cara muito bom para mau. É ampla a questão da interpretação de como ele atua”.

Ela também cita as personagens femininas, nas quais todas tem uma sensação maternal expressa de formas diferentes. Um exemplo é a diretora do clube, que entra em um conflito interno, o que representa o telespectador, sobre a inocência do personagem feito por Daniel de Oliveira. A personagem compreende tanto o lado do protagonista, quanto o dos pais que o acusam.

“Não é sobre o que ele fez, mas o que poderia ter feito”, disse Lucas Paraizo, quando o mediador menciona a pedofilia. “Independente se ele fez ou não, a vida desse cara acabou. Ele não morreu, mas essa morte foi decretada pela sociedade, então, o nosso trabalho dentro desse tema é ampliar a discussão”.

Embora o filme, passe em um clube de natação, a diretora comenta sobre o tempo e os cortes secos, o que entra no segundo tema sugerido pela plateia. “É um tema muito seco, muito difícil de lidar, então, o contraste com a natação, que é um ambiente fluido. Então, essa metáfora da água, acaba criando um contraste com essa história tão dura de retratar”. “O que queríamos mesmo era abordar a questão do linchamento virtual. Eu fico muito impressionada como é avassalado e como é rápido”, disse Jabor

Isso relaciona com o ocorrido na exposição do MAM (Museu de Arte Moderna) em São Paulo, em que havia a junção de um corpo adulto nu, com as crianças. As redes sociais foram as principais portas para o moralismo. Moura “uma coisa que é muito impressionante também é a irracionalidade das relações coletiva, o que eu acho que é um outro tema que o filme tem muito forte”. Ele exemplifica com duas cenas que mostram o questionamento sobre a sexualidade do papel interpretado pelo Daniel, feito por uma professora que havia dito que jamais faria. No entanto, por conta da pressão social acabou por duvidar.



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