Publicado em 13/10/2016

Por Carlos Alberto Mattos

Dos personagens de Todd Solondz (Bem-Vindo à Casa de Bonecas, Felicidade) a gente já sabe o que esperar: depressão, neuroses, solidão e atitudes distantes do figurino normal. Os de WIENER-DOG têm, além disso, um elemento comum – todos são donos sucessivos de uma cadelinha-salsicha. Um menino submetido às normas de pais maníacos, uma veterinária sem rumo certo, um casal portador de Down, um professor e roteirista frustrado, uma senhora cega. Cada um deles projeta no animal um pouco da sua insegurança e lhe dá um destino que tem a ver com a sua própria sorte.

A ideia de um “melhor amigo” começa a brotar ali pela metade do filme, quando Solondz nos surpreende com um estranho intervalo. A partir de então, o filme retoma o rumo sombrio e às vezes surreal. Longe do sonho americano sugerido por algumas paisagens de subúrbio, as pessoas parecem tão enjauladas quanto a cadelinha no início do filme. O paralelo entre animal e humanos é sutilmente construído de história para história, da infância até a morte. Solondz exerce sua perversidade em estilo suave, como no longo travelling sobre cocô de cachorro ao som de Clair de Lune, de Debussy. Com direito, ainda, a uma sátira cruel das escolas de cinema que formam dandies em lugar de criadores.

Solondz é um criador de forte personalidade. Seus filmes são inquietantes, incômodos e ao mesmo tempo sedutores pela exótica humanidade que pulsa detrás de suas caricaturas. A direção minimalista, mas cheia de nuances nas atuações do elenco, e a secura do estilo de WIENER-DOG garantem uma curiosidade renovada por sua carreira.




Voltar

Edição 2023