Publicado em 08/10/2015

Em uma das cenas do documentário, um grupo de mulheres reunido em uma sala relata para o Dr. Mukwege a razão de estarem ali pedindo auxílio em sua clínica. Todas trazem histórias funestas envolvendo violência sexual. O que vemos então são longas e dolorosas jornadas em direção à reconstrução da autoimagem de cada uma dessas mulheres. É disto que trata Dr. Mukwege – o homem que conserta mulheres: da rotina desse médico que dedica sua vida a cuidar de mulheres estupradas durante os conflitos contínuos no leste da República Democrática do Congo.

O debate ocorreu no Centro Cultural Banco do Brasil na tarde de ontem (quarta-feira, 7 de outubro). A primeira fala foi da mediadora, Vik Birkbek, jornalista e cineasta, curadora da mostra Fronteiras, que expôs o fato de que grande parcela da população brasileira é composta por descendentes de africanos e, ainda assim, há um significativo desconhecimento dessas mesmas pessoas com relação aos acontecimentos importantes desse continente.

Bernard Quintin, atual cônsul da Bélgica, analisou a desestruturação total da sociedade do Congo como consequência dos atos de violência sexual ocorridos durante os conflitos. Além disso, chamou a atenção para a impunidade dos autores de tais crimes, e mencionou uma conversa que teve com o ministro do Desenvolvimento, do qual era conselheiro, sobre a reforma da Justiça na região do Congo. Quintin afirmou acreditar que a Justiça seria a base de qualquer sociedade e que, entre todas as reformas, essa seria a mais difícil – mais do que aquelas direcionadas à polícia e ao exército, por exemplo.

Alain Pascal Kaly, doutor em Ciências Sociais, abordou a trajetória da República Democrática do Congo, de seus momentos pré-coloniais e coloniais ao panorama atual. Thierry Michel, o diretor, complementou, revelando que as milícias do Congo usavam, e ainda usam, o estupro como arma para conseguir os territórios com os melhores minérios, com a finalidade de vendê-los a multinacionais.

O debate foi polêmico e pontuado por opiniões fortes, tanto por parte do público quanto dos debatedores. O tempo em tela das mulheres no filme foi problematizado por algumas espectadoras, enquanto outras pessoas elogiaram as qualidades técnicas do documentário.

Finalizando, Alain Pascal Kaly pediu para que todas as mulheres se unissem contra o mal comum da violência sexual, e reiterou que o estupro não é um problema somente africano, mas de proporções mundiais.

Texto: Pedro Alves




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