Publicado em 10/10/2016

Por Carlos Alberto Mattos

Afeito às câmeras desde que participou e venceu uma edição do Big Brother Brasil, o deputado federal Jean Wyllys passa com tranquilidade pela prova do longa-metragem de cinema direto em ENTRE OS HOMENS DE BEM, de Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini. Wyllys é visto em fases diferentes da carreira política, mas sobretudo nas batalhas que trava contra o conservadorismo e a homofobia no Congresso Nacional, os chamados “homens de bem”. Alguns diálogos, principalmente com sua assistente de gabinete, e vários depoimentos em offajudam a demonstrar como ele desenvolve seus raciocínios de combate. Nos corredores, é assediado por pastores incomodados e picaretas de todo gênero. No plenário, ora recebe ofensas, ora uma cantada. No computador, enfrenta mensagens de ódio e ameaças de morte. Numa das cenas mais felizes do documentário, ele comemora o primeiro beijo gay numa telenovela brasileira, confiante de estar vendo um marco na consciência da diversidade no país.

Mas, como em tantos filmes de observação de celebridades, Wyllys é um personagem-ponte, que serve de guia e acesso a um contexto maior. No caso, o da cultura da intolerância, que tem na atual Câmara dos Deputados a sua câmara de eco e legitimação. A reeleição de Wyllys em 2014 coincidiu com a eleição da bancada mais conservadora da Câmara desde a ditadura militar, responsável afinal pelo golpe parlamentar-jurídico-midiático que retiraria do poder a presidenta Dilma Rousseff em 2016. Wyllys enfrentou os projetos de “cura gay”, a eleição do deputado Marco Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara e a fúria da bancada evangélica contra a PEC do casamento civil entre homossexuais. Observar a atuação de Jean Wyllys, portanto, equivale a descortinar um panorama grotesco a que ele só pode sobreviver com muitos banhos de descarrego como o que abre o filme.




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