Publicado em 06/10/2015

O Cine Odeon recebeu nesta terça-feira (6 de outubro) o filme Cordilheiras no mar: a fúria do fogo bárbaro, que teve sua estreia na noite de ontem, em uma sessão da mostra Première Brasil no Cinépolis Lagoon, e traça um panorama da atuação política de Glauber Rocha, com foco especial nas opiniões controversas do cineasta com relação ao regime militar.

Grande nome do cinema brasileiro, o documentarista paraibano Vladimir Carvalho abriu a conversa, mediada por Renée Castelo Branco, expondo sua satisfação de estar ali. Contou também várias de suas experiências e estórias com o retratado: “Ele estava sinalizado para ser essa pessoa com antenas, para pensar na infinitude do cinema, pensar a arte, como um poeta e um profeta. Ele é exemplo, um ser dividido, partido ao meio, porque queimavam dentro dele duas paixões: a primeira, inenarrável, pela poesia, e a outra, pela política”. Ele ainda declarou-se extasiado com o acontecimento da noite anterior, comparando-o com um barravento (nome do primeiro filme de Glauber, que também é um termo náutico para fortes ventos): “Aquilo foi uma espécie de tsunami de aplausos, uma aclamação a este extraordinário filme”.

Rodrigo Fonseca, jornalista e crítico, ressaltou a contribuição enorme do longa-metragem para nos ajudar a conhecer mais o Glauber depois dos anos 1970, e entendê-lo melhor. “A obra dele ainda está em descoberta, seus filmes estão sendo conhecidos. As pessoas estavam estacionadas nos seus títulos dos anos 1960”. Apontou ainda o mérito do documentário em “emular na forma essa estética glauberiana de invenção e reinvenção constantes. É meio cinebiografia, meio tratado político, meio performance, é meio tudo, como o Glauber era”.

Orlando Senna, cineasta e amigo de Glauber desde muito jovem, recordou momentos relevantes, como a primeira vez em que o viu, em uma reunião de política secundarista, na qual o então garoto Glauber Rocha discursava sobre a necessidade de o projeto político ser apoiado por um projeto artístico, pois os dois não andam sozinhos, só se desenvolvem e se sustentam juntos. Depois, o último encontro, em seu funeral no Parque Lage, que lembrou como uma das noites mais dolorosas da história do Brasil, como a despedida de um herói. “Naquele momento eu não tive dúvida de que, além de poeta, cineasta, artista, intelectual e pensador político que lutava por seu povo, ele também tinha o ar mítico e místico dos profetas”.

O diretor, Geneton Moraes Neto, se disse feliz com o público, que encheu a primeira exibição do filme e contou com a presença de Caetano Veloso, Peréio e outros grandes nomes. “Ter aquela geração inteira lá, tanta gente importante, me faz perceber como o Glauber continua forte, existindo depois de tantos anos. É impressionante ver como tudo o que ele diz ainda faz sentido; suas palavras são atuais, ele podia ter dito isso ontem à noite. E é bom que o filme, quando acaba, tal qual o Glauber, deixa dúvidas, e não respostas. Eu acho legal, é pra sair com dúvidas mesmo”.

Texto: Juliana Shimada

Fotos: Lariza Lima




Voltar