Publicado em 11/10/2015

O domingo (11 de outubro) no Odeon começou com casa cheia e grandes nomes no Cine Encontro, para um debate sobre A floresta que se move, de Vinicius Coimbra. A ficção, baseada em Macbeth, de William Shakespeare, conta a história de Elias (Gabriel Braga Nunes), executivo de um banco que, após encontrar-se com uma bordadeira que lhe prediz o futuro, se envolve em uma série de crimes movidos pela ambição, com a ajuda de sua mulher, Clara (Ana Paula Arósio).

O professor de cinema Sergio Mota, que mediava a conversa, começou relembrando a carreira do diretor e de seu filme vencedor do Festival do Rio de 2011, A hora e a vez de Augusto Matraga. Observou também a elegância com que o novo longa transita por vários gêneros e sua capacidade de ser artístico sem abrir mão do grande público. Coimbra explicou que discorda da polarização entre arte e popularidade e acha importante fazer obras que, além de apuradas esteticamente, consigam se comunicar com as pessoas: “Estar atento ao público é uma obrigação, não quero fazer um filme para agradar à classe do cinema, para os festivais, para ganhar prêmio. Eu quero que o público goste”. Contou também que, ao escrever o roteiro, percebeu que devia respeitar as palavras originais do texto, sem violar sua essência, mesmo que a trama tenha sido trazida para a contemporaneidade. “A palavra de Shakespeare deu base para todos os departamentos; o diretor de arte, o de fotografia, o de som, todos tiraram dela o insumo do seu trabalho. Eu vi que o importante era deixar os valores universais do dramaturgo como pilares e colocar as palavras dele na boca dos atores certos.” 

A atriz Ana Paula Arósio comentou que o mérito de sua atuação afinada foi do roteiro impecável de Coimbra e da união do elenco, orquestrado milimetricamente com delicadeza e força. Questionada sobre os motivos que a levaram a aceitar o papel, Arósio foi enfática: “Eu aceitei porque tinha uma personagem incrível e porque tinha o Vinícius. Eu vi que ele tratava o Shakespeare com o cuidado que devia, e essa energia foi muito importante pra mim. Esse trabalho resgatou meu carinho pelo set de cinema”.

Os atores Gabriel Braga Nunes, Ângelo Antônio e Rui Ricardo Diaz concordaram com Arósio, e Fernando Alves Pinto completou: “É muito difícil adaptar Shakespeare e na maioria das vezes isso acaba dando errado. Eu cresci estudando Macbeth, e quando li o roteiro vi que ele estava ótimo. Já estava enxuto do jeito que vocês viram, com o texto original mantido sem soar estranho. A gente treina para ser ator, é bom pegar um texto difícil e dar vida. É uma experiência inenarrável”.

A produtora Elisa Tolomelli também revelou detalhes do processo, como o fato de que o longa não tem patrocinador, só coprodutores, informando também que o orçamento apertado os fez refazer o desenho de produção quinze vezes. “É emocionante, depois desses quinze desenhos de produção, ver que todo tostão está lá na tela, e que a gente foi bem-sucedido. O bom produtor aprende a fazer filmes de qualquer porte, ele precisa saber como ter o melhor em qualidade artística e técnica com a menor quantidade de dinheiro possível”, sublinhou. 

A plateia fez muitas contribuições e teceu elogios calorosos a todos da mesa, e o grande ator Nelson Xavier concluiu: “A floresta que se move é exemplarmente bem produzido, está na cara que é uma coisa bem bolada. O elenco está muito acertado, a edição está bem acabada. É um filme muito bom”. Solicitada uma última declaração, Xavier disparou: “Eu queria agradecer ao Vinícius porque nunca me chamaram para fazer gente rica antes”, o que despertou sonoras gargalhadas por todo o cinema. 

Texto: Juliana Shimada

Fotos: Lariza Lima



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