Publicado em 30/09/2013

                                                                              

Por Sara Stopazzolli

Quem assistiu a O quarto do filho, de Nanni Moretti (Palma de Ouro de Cannes em 2001), deve lembrar-se de Jasmine Trinca, aos 18 anos, estreando no cinema. Uma “obra do acaso”, segundo ela. Mesmo premiada como atriz revelação, Jasmine saiu de cena e voltou para a faculdade de arqueologia. “Não era meu sonho. Achava que estava roubando o sonho dos outros. Mas depois de sete anos eu entendi que temos que agradecer as chances que a vida nos dá”, conta ela. Em 2006, Jasmine trabalhou novamente com Moretti no controverso Il Caimano, firmando-se como uma das atrizes mais requisitadas do cinema italiano. E é bem provável que, em breve, outros mercados também estarão de olho nela. Uma semana antes de desembarcar no Rio, a atriz acabara de filmar em Hollywood o longa The Gunman, de Pierre Morel, ao lado de Sean Penn e Javier Bardem. Outra “obra do acaso”, segundo ela. Foi Sean Penn, encantado com seu desempenho em Mel, quem recomendou a atriz a Morel. “Na verdade eu nunca sonhei em trabalhar em Hollywood, mas topei o desafio e foi muito legal. Javier e Sean são atores incríveis e foram muito generosos comigo”, conta ela.

Jasmine está no Rio para apresentar dois filmes: Mel, Valeria Golino, exibido no Festival de Cannes, em que vive uma garota que ajuda doentes terminais a cometer suicídio; e Chegará o dia, de Giorgio Diritti, onde faz uma italiana que embarca em uma viagem de autoconhecimento pela região amazônica.

Jasmine esteve ontem na sessão de Mel e estará hoje na de Chegará o dia, às 21h30, no mesmo cinema.

Como foi a experiência de filmar na Amazônia?

Foi incrível, no sentido de uma verdadeira jornada. Trabalhamos com índios e atores não profissionais de uma favela em Manaus. Como muitos não falavam nem português, nossa relação acabou extrapolando o mundo das palavras. Passamos a expressar mais os sentimentos, a gratidão.  Foi muito delicado e toda a equipe teve que perder aquela prepotência que o meio do cinema tem.

Você não parece nada prepotente.

(risos) Talvez eu seja uma das atrizes mais fáceis de se trabalhar na Itália. 

A jornada de autoconhecimento de Augusta [personagem de Chegará o dia] confunde-se em algum momento com a de Jasmine?

Eu deixei Roma em um momento difícil. Minha mãe havia morrido havia dez dias; minha filha estava com dois anos e meio. As descobertas da personagem acabaram sendo minhas também. A natureza da Amazônia é muito poderosa. É um lugar para recomeçar, para descobrir o verdadeiro sentido da vida. Mas depois você volta para casa e, por uma questão de sobrevivência, precisa se readaptar à rotina. Ficam as memórias.

E como foi atuar logo em seguida em Mel, onde você faz outra personagem com uma forte carga dramática?

Eu tive que esquecer a Augusta. Apesar de ser uma ficção, era eu no filme, compartilhando minha essência com o público. Em Mel, Valeria descobriu um lado meu que estava muito escondido. É uma personagem que parece forte, mas também é muito frágil. Ela sugeriu que eu cortasse os cabelos bem curtos e eu topei. Fiquei impressionada com a transformação. Não só em relação à imagem. É como perder uma proteção, como se eu trocasse de pele.

Você vê semelhanças entre as personagens?

Na verdade são duas mulheres buscando escapar do sofrimento, mas uma tenta encontrar um meio de começar de novo, de entender o significado da vida, enquanto a outra está sempre fugindo.




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