Publicado em 12/10/2016

Neste feriado (quarta-feira, 12) o público do Cine Encontro teve a oportunidade de assistir a Curumim, documentário concorrente ao Troféu Redentor centrado na figura de Marco “Curumim” Archer, brasileiro apreendido com 13,4kg de cocaína no aeroporto de Jacarta, Indonésia, em 2004. Condenado à morte, o traficante passou onze anos preso, até o súbito e inesperado cumprimento da sua sentença, em janeiro de 2015.

O debate que sucedeu a exibição, mediado pelo crítico de cinema Luiz Carlos Merten, contou com a presença do diretor Marcos Prado e do montador Alexandre Lima. Merten iniciou a conversa destacando a presença das drogas e do tráfico como temas recorrentes na obra de Prado, que também assina a direção de Paraísos artificiais. O cineasta explicou que tem um filho jovem e, sabendo que a adolescência é uma fase de intensas descobertas, curiosidades e experimentações, preocupa-se com a questão e busca, através dos seus filmes, formas de abrir, difundir e aprofundar um debate transparente sobre o assunto.

Questionado a respeito da origem do filme e do seu processo de realização, o diretor revelou que foi o próprio Curumim quem o procurou para contar sua história, em 2009, a princípio na forma de ficção. Na época, explicou Prado, o traficante acreditava que conseguiria escapar da pena de morte e as conversas sobre o projeto se mantiveram esporádicas e casuais. Por volta de 2012, no entanto, a execução começou a se tornar uma certeza cada vez maior e o desejo de Curumim passou a ser que o filme se tornasse seu legado. Prado contou que propôs então transformar o projeto em um documentário, mas esbarrou na proibição de realizar suas filmagens no presídio de segurança máxima onde o traficante estava recluso. E revelou que, para a sua surpresa e preocupação, o próprio Curumim tomou a iniciativa de contrabandear uma câmera para dentro da prisão, graças à cumplicidade dos guardas com quem fizera amizade após anos de convivência, e começar a se filmar.

Ainda sobre o processo de construção do filme, a plateia perguntou a Prado sobre a ausência da família de Curumim no documentário e sobre as mudanças narrativas provocadas pela execução realizada às pressas, e inesperadamente, em 2015. O cineasta esclareceu que a ausência da família deveu-se ao fato de que, à época de realização do longa, o pai, o irmão e a mãe de Marco Archer já haviam falecido. E contou que a morte do traficante, a quem se afeiçoara profundamente ao longo do desenvolvimento do documentário, impactou-o de tal maneira que chegou a pensar em abandonar o projeto. Ao fim, no entanto, Prado afirmou ter conseguido reestruturar um filme que toca em temas como a criminalização das drogas, a pena de morte, a corrupção e o espírito de toda uma geração, mas acima de tudo centra-se em seu personagem e promove um encontro entre a biografia de Curumim e os seus dias finais.

Lima aproveitou para declarar que foi atraído para o projeto justamente pela impactante figura que é Curumim e pela oportunidade trazida pela iniciativa de mostrar que por trás do traficante existia um homem em busca de afeto, de pertencimento, de uma comunidade. “Toda geração tem o seu traficante, alguém que não se encaixa na sociedade e sua lógica de trabalho habitual”, acrescentou Prado.

Questionado, por fim, sobre possíveis reações negativas do público conservador ao tema do documentário, Prado respondeu apenas: “Vejam o filme e aprofundem o debate depois”, anunciando sua exibição na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e sua estreia no circuito comercial no dia 3 de novembro, acrescentando ainda que espera, acima de tudo, exibir e debater Curumim nas escolas de todo o Brasil, onde acredita que a mensagem de seu personagem ecoará com força especial.

Texto: Clara Ferrer

Fotos: Pedro Ramalho




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