Publicado em 13/10/2016

O Cine Encontro de ontem (12 de outubro) exibiu o documentário Intolerância.doc, de Susanna Lira. O filme faz um mergulho profundo no universo dos crimes de ódio cometidos no estado de São Paulo a partir de arquivos da única delegacia especializada no assunto, a Decradi (Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Raciais e Delitos de Intolerância). 

Após a sessão, realizada no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), houve um animado debate com a diretora Susanna Lira, a assistente de direção Muriel Alves e o animador Daniel Sake, membros da equipe do documentário. A conversa, mediada pela jornalista Telma Alvarenga, contou também com a presença de Renée Castelo Branco, programadora do canal Globo News, que coproduziu o longa junto com a Globo Filmes e a produtora Modo Operante.

Diante de uma casa cheia, Alvarenga iniciou o bate-papo questionando o nicho incomum de crimes de ódio no qual Lira se aprofunda. A diretora, que aborda principalmente conflitos entre punks e skinheads, torcidas organizadas e a questão da transfobia em seu filme, atribuiu a escolha dos temas ao grande número de casos de crimes de ódio apurados que os envolvem e ao pouco destaque midiático que recebem.

Renée Castelo Branco, da Globo News, declarou que o caminho menos óbvio foi justamente o que motivou o canal a formar uma parceria com a diretora. Defensora das produções independentes, ela disse considerá-las um respiro na programação e explicou que a Globo News busca incentivar a liberdade criativa dos realizadores. Castelo Branco ressaltou ainda a importância da exibição de documentários na televisão e seu efeito direto no aumento do público de filmes do gênero nas salas de cinema.

Várias falas do público abordaram a forte presença da música e das ilustrações que reconstituem as cenas de violência no filme. Daniel Sake relatou que quis fugir da frieza nas representações de cenas tão fortes e por isso optou pelo vermelho como a única parte colorida da animação em preto e branco. De acordo com o animador, a construção da sensibilidade nos grafismos foi um processo longo e coletivo. Esse caráter de idealização conjunta também está presente na trilha, assinada por Tito Gomes e Paulo Mainhard, descrita como “um trabalho a várias mãos” pela diretora. Ela ressaltou ainda o forte envolvimento da produtora com a questão musical.

Apesar da importância inegável da arte e da trilha, Lira atribuiu a sensibilidade que o filme carrega ao cuidado da equipe no processo de pesquisa, acima de todos os outros fatores. A assistente de direção Muriel Alves comentou as dificuldades do processo de comunicação com os participantes do documentário, como o receio das torcidas organizadas em relação ao contato com a imprensa e a fragilidade da família das vítimas de crimes de ódio. Lira colocou a relação de confiança com os entrevistados como sua prioridade e disse esperar que o filme transmita uma mensagem de compaixão na intolerância crescente dos dias atuais. Para ela, “a intolerância tem nome, sobrenome e família, não é estatística”.

Texto: Duda Gambogi

Fotos: Dave Avigdor




Voltar