Publicado em 11/10/2017

O diretor italiano Jonas Carpignano apresenta nesta quinta (12) no Festival do Rio a sua mais nova produção, “A Ciambra”, no Estação Net Botafogo 1 às 19:00. O filme conta um elenco de cidadãos comuns de uma mesma família da comunidade de Ciambra na Itália - que interpretam a si mesmos e com seus nomes reais - e gira em torno do menino Pio Amato, que se vê envolto em um desafio de maturidade diante das situações que se apresentam na trama.

O filme é a produção italiana escolhida para concorrer a uma indicação ao Oscar, mas isso não é algo que deslumbre Carpignano. O italiano diz interessar-se mais em levar a história de Pio, sua família e desta pequena comunidade no sul da Itália para o mundo através das telas do cinema.


Como veio a ideia de utilizar a família Amato como personagens de “A Ciambra”?

A ideia surgiu do meu encontro com eles quando os conheci em 2011 após o meu carro ter sido roubado por alguém da família deles, e decidi que iria voltar à cidade algum dia para saber o que estava acontecendo por ali. Era um lugar da cidade que eu não conhecia. Voltei e fiquei por lá por muito tempo e conheci o garoto Pio (Amato), e através dele conheci toda a comunidade. A minha ideia foi fazer o público conhecer esta comunidade, conhecer o Pio, e com ele conhecer toda a família. Essa experiência nasceu para mostrar como é o cotidiano dele e o que ele faz junto de sua família.

E quais foram os desafios para realizar essa produção com atores não profissionais?

Foi difícil porque eles nunca haviam feito um filme e a maioria das pessoas não sabia ler. Então não era algo como ir para casa, estudar os seus textos, voltar no outro dia e fazer as cenas. Foi claramente um aprendizado. Todos os momentos em que estávamos juntos eu explicava o que fazer e como funcionavam os textos. Tivemos que trabalhar bastante as cenas antes de começar a rodar de fato, então era muito tempo consumido nesta preparação. Mas por outro lado houve facilidades, pois todos estavam interpretando uma versão deles mesmos, e foi muito fácil para se conectarem emocionalmente com as cenas. Nunca precisaram fazer uma pesquisa, pois eles tinham um forte ligação emocional com os personagens e estavam preparados para coloca-los em cena.

Alguns críticos apontaram elementos do neo-realismo no filme. Você reconhece esses elementos? 

As pessoas acabam fazendo essa associação porque pela primeira vez não-atores haviam sido postos em cena, pessoas das ruas foram utilizadas nos filmes, pessoas de vários lugares estavam contando as suas histórias e assim nasce o movimento realista italiano. É algo como dramatizar coisas e pessoas na vida real. Então é óbvio que há essa conexão com este trabalho. Mas por outro lado, cinema é diálogo, é uma linguagem que envolve muitas coisas e é influenciada por muitos outros lugares. Então o neo-realismo influenciou o new wave francês, que por consequência influenciou muitos outros movimentos. E como um ciclo, alguns filmes de hoje também têm sido chamados ou classificados como Cinema Reale. É óbvio que são filtros de outros movimentos. Eu não sei se podemos chamar “A Ciambra” de neo-realismo. É algo diferente porque muitas coisas aconteceram durante esse meio tempo, mas é claro que a raiz é o neo-realismo.

Texto: Fernando Flack

Foto: Vinícius Fonseca



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