Publicado em 11/10/2017

Texto de Felipe Ribeiro

Ao som da água e com planos subaquáticos, Aos Teus Olhos convida o espectador, logo na primeira sequência, a mergulhar fundo na trama que está por vir. A história gira em torno de Rubens (Daniel de Oliveira), instrutor de natação infantil acusado de pedofilia contra Alex (Luiz Felipe Melo), seu aluno de 7 anos.

Alex, apesar de ser o centro da trama, pouco aparece no filme, e quase sempre em silêncio. Sua voz é transmitida unicamente pelas denúncias dos pais, que têm uma visão apaixonada da situação. Ansiosa por justiça, a mãe usa o poder voraz das redes sociais para acusar Rubens. Está colocada assim a questão contemporânea do linchamento virtual, pilar do roteiro. A tensão crescente é construída a partir da presença das pequenas telas de celular, que reproduzem mensagens e publicações, e do trabalho de som que usa ruídos para gerar inquietação. À medida em que o filme avança, a agressão que começou no mundo virtual se torna verbal e física, levantando um assunto subjacente: a justiça pelas próprias mãos.

Antes de falar em aberto sobre a pedofilia e acusar Rubens de ter beijado Alex, a primeira pergunta que o pai faz sobre o instrutor é se ele é homossexual. Há, de cara, a tentativa de associar as transgressões sexuais à maior liberdade na forma de se relacionar da comunidade LGBTQ – comportamento absolutamente factível num Brasil regido pela política da “tradicional família brasileira”. A diretora Carolina Jabor faz, no entanto, questão de não rotular os personagens. Rubens, por exemplo, tem uma namorada, mas a linguagem corporal de Oliveira é dúbia. Não precisamos defini-lo.

O roteiro tenta equilibrar o número de cenas em que o personagem parece culpado e inocente, assim como as expressões de Oliveira – que ora o fazem parecer culpado ora vítima de uma situação absurda. Carolina Jabor quer que o público tenha essa dúvida e usa planos que enquadram os pequenos gestos do instrutor com os alunos com uma lupa; parte dessas imagens são tiradas da câmera de segurança.  

Em meio a essa multiplicidade de imagens e telas que se confundem e se influenciam, a “verdade” parece ser algo inalcançável. No desfecho aberto, o espectador não precisa escolher entre culpa e inocência; talvez ele seja, inclusive, instigado a pensar sobre o quanto essa necessidade de sempre assumir um lado pode ser perigosa. É, sem dúvida, o tipo de filme que instiga a reflexão e o debate.




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