Publicado em 11/10/2016

Por Renato Guimarães (Talent Press)

Sentado sozinho no banco do longo corredor de um asilo, Amador, um homem aparentemente pacífico, encara a foto de um velho que provavelmente já morreu. Enquanto espera o momento para visitar um antigo amigo, ele encara a própria velhice. Comeback, longa-metragem de Érico Rassi, em competição na Première Brasil, faz questão de mostrar que o tempo passa até mesmo para os pistoleiros.

Obcecado com as glórias de seu passado e mergulhado na nostalgia, Amador (Nelson Xavier, em uma interpretação autêntica de um velho impaciente e amargurado, cuja visão de mundo interiorana e saudosista é muito bem construída também pela trilha sonora composta por músicas bregas) guarda um grande álbum de recortes, seu maior tesouro, um mostruário que reúne diversas notícias sobre os crimes que cometeu.

No entanto, hoje ele é apenas um velho que vende máquinas caça-níqueis para pequenos estabelecimentos de um bairro periférico de São Paulo. O diretor Érico Rassi enfatiza o embate entre presente e passado: Amador reconta suas histórias como uma forma de provar que ainda tem algum valor, mas os seus relatos não podem salvá-lo do esquecimento. O drama decorrente desse contraste é muito bem interpretado por Xavier.

Comeback ultrapassa o que se espera de uma trama sobre os últimos dias da vida de um homem. Com um roteiro que mescla ironias e o modo de falar característico de um local afastado do centro em diálogos espirituosos, o filme diverte e nos faz rir ao retratar a violência com um humor negro raro no cinema brasileiro. 

A questão é que Rassi só atinge a confluência entre suas propostas dramáticas e cômicas no auge do filme. Antes disso, a estagnação do dia-a-dia repetitivo de Amador é representada por cenas ora cômicas, ora dramáticas, que nem sempre dialogam entre si. Desigual, Comeback se opõe, portanto, ao seu protagonista: diferente de Amador, o filme alcança sua glória apenas em seus momentos finais.




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