Publicado em 05/10/2015

O Cine Odeon recebeu nesta segunda-feira (5 de outubro) o filme Futuro junho, que teve sua estreia mundial na noite de ontem, em uma sessão da mostra Première Brasil no Cinépolis Lagoon. Participaram do debate sobre o documentário, que segue o cotidiano de quatro trabalhadores de São Paulo em junho de 2014, às vésperas da Copa do Mundo, a diretora Maria Augusta Ramos, a montadora Karen Akerman, os fotógrafos Camila Freitas e Lucas Barbi e o economista André Perfeito, um dos personagens do filme.

A mediadora, Patrícia Rebello, doutora em Comunicação Social com pesquisa voltada para o documentário, iniciou a conversa comentando que um dos principais temas de Futuro junho é como o mundo presente se constrói a partir de aquisições para o futuro − da casa própria ao plano funerário.

Em seguida, Maria Augusta Ramos descreveu as origens do projeto, explicando que ele surgiu de um desejo de compreender melhor o mercado financeiro após a crise econômica de 2008. Seu filme, esclareceu, é um retrato não apenas do Brasil, mas também do modelo econômico neoliberal que teria se colocado como única alternativa viável, em todo o mundo, nas últimas décadas. Esse modelo, essa instituição intocável, atinge as vidas das pessoas reais e comuns, e é isso que Futuro junho busca mostrar.

Rebello apontou também a importância da cidade São Paulo no documentário, e questionou os fotógrafos sobre o processo de filmagem. Camila Freitas comparou as imagens do motoboy Alex Cientista, personagem que melhor traduziria a velocidade da cidade, se esgueirando rapidamente pelos menores espaços para sobreviver, com as do economista André Perfeito, dentro de seu carro, preso no trânsito. Brincando, Perfeito declarou-se o vilão do filme, mas destacou sua relação de confiança, amizade e cumplicidade com a equipe, crucial no processo de realização do documentário. Também comentou o quanto Futuro junho é importante por mostrar o impasse que vivemos atualmente diante da insustentabilidade do nosso modelo econômico.

O economista tentou ainda desmistificar um pouco da complexidade da área em que trabalha, dando a Karen Akerman a oportunidade de contar que o maior desafio no processo de montagem foi justamente sua total incompreensão do “economiquês” presente em grande parte do material bruto. Akerman revelou que as primeiras versões do filme tinham uma presença ainda maior de assuntos relativos à economia, que foram cortados após a conclusão de que o documentário parecia inacessível ao público geral.

Falando em público, uma turma de Ensino Médio do Colégio Estadual Dom Pedro II veio diretamente de Petrópolis para participar do debate. Os alunos, que têm trabalhado em aula na realização de seus próprios documentários, fizeram perguntas sobre temas que variaram das reivindicações sociais nas manifestações populares ao processo de montagem do documentário.

Akerman então falou sobre seu trabalho, explicando que sempre começa a editar um filme como se confeccionasse um roteiro, e Ramos acrescentou a importância de, durante o processo de filmagem, ter sempre a preocupação de manter um rigoroso padrão de proposta estética, mesmo diante das situações mais inesperadas.

Respondendo a outra das questões da plateia, Perfeito lembrou que a elite brasileira está acostumada a um jogo que acabou, mas que o futuro é um domínio de enorme incerteza − exemplificada, no próprio filme, pela histeria de seus colegas de trabalho quando o dólar atinge os R$ 2,20 (hoje, o dólar passa dos R$ 4,00). “Futuro junho já passou”, brincou.

Texto: Clara Ferrer

Fotos: Natália Alvim




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