Os heróis reais de Sob pressão
Fonseca iniciou o bate-papo destacando o ritmo ágil e frenético da obra, que apesar de ser um drama funciona quase como um filme de ação. Waddington explicou que esse ritmo surgiu durante o longo processo de pesquisa que antecedeu a realização do filme, em que teve contato com a constante necessidade de fazer escolhas e a ação ininterrupta que marcam o cotidiano dos cirurgiões da rede pública no país. O compromisso com uma imersão profunda e realista no universo cheio de particularidades dos médicos, aliás, foi uma prioridade para a equipe de Sob pressão, que ressaltou várias vezes ao longo do debate o intenso trabalho de laboratório empreendido por todos. Além disso, sublinhou-se a preocupação em contar histórias calcadas na realidade, como a existência de homens e mulheres negros na profissão, a entrada da violência nos hospitais através da proximidade com o tráfico e a polícia, e o hábito de automedicação tão comum e pernicioso entre a classe médica.
Fonseca trouxe à tona a questão do desamparo e da decadência na saúde pública do Brasil. Maranhão contou que o filme, que foi rodado em setores abandonados da Santa Casa de Cascadura e narra um tenso dia na vida de uma equipe de médicos, é um retrato fiel do que se vê no país inteiro, ressaltando que fora dos grandes centros urbanos a situação é ainda mais grave. Júlio Andrade, cujo trabalho como ator lhe permitiu conhecer diversas faces e lugares do país, assinalou a importância de contar essas histórias e explicou que foi isso que o atraiu para o filme − além, obviamente, da oportunidade de interpretar um personagem tão fascinante, um herói humano e complexo, repleto de falhas e obcecado com o seu compromisso profissional de salvar vidas, custe o que custar. Maranhão acrescentou que a necessidade de recorrer a medidas extremas e improvisadas para tratar os pacientes é “pura realidade”, mas não pode ser aceita como normal, e colocou que faltam referências éticas para os médicos que estão se formando.Falando em ética, o mediador questionou Waddington sobre a relação de lealdade que costuma desenvolver com seus atores, com destaque para Stepan Nercessian, com quem já estabeleceu uma proveitosa parceira. O diretor explicou que para ele a dramaturgia vem sempre em primeiro lugar, com toda a técnica envolvida nas filmagens devendo estar a serviço do ator. Questionado em seguida sobre o visual marcante do filme, contou que sua prioridade foi implantar uma iluminação de base que lhe permitisse gravar em trezentos e sessenta graus e com rapidez, revelando também que rodou o longa em apenas dezoito dias. A agilidade se estendeu à etapa de montagem, que se iniciou ainda durante as filmagens e se completou em tempo recorde. “Eu nunca tinha visto um primeiro corte tão bom”, declarou.
A plateia se mostrou especialmente curiosa a respeito da continuidade do projeto, que parece naturalmente destinado à televisão. Waddington revelou que Sob pressão foi de fato pensando originalmente, há mais de oito anos, como série televisiva e que só recentemente foi adaptado para o formato de longa-metragem. Questionado sobre a ideia de transformar o filme em série, o diretor confirmou que já existe um projeto em andamento. E concluiu pedindo a todos que divulgassem e comparecessem à estreia do filme, no dia 17 de novembro. Se depender do entusiasmo dos alunos do Dom Pedro II, o sucesso está garantido.Texto: Clara Ferrer
Fotos: Dave Avigdor
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