Publicado em 08/10/2016

A primeira sessão do Cine Encontro deste ano, ocorrida neste sábado (08 de outubro) no Cine Odeon, trouxe um íntimo debate entre fãs, com o documentário Waiting for B., que faz parte da mostra Première Brasil e concorre ao Troféu Redentor. Participaram da mesa o mediador Tino Monetti, o diretor Paulo Cesar Toledo e um dos protagonistas do filme, Charlles Angels.

  Monetti, coordenador do Prêmio Felix – premiação do Festival do Rio destinada a contemplar obras voltadas ao universo queer e à diversidade de gênero – iniciou a conversa perguntando a Toledo sobre o processo de realização do longa-metragem, que retrata as aventuras de fãs que passaram dois meses acampados no Estádio do Morumbi, em São Paulo, para garantir lugares na primeira fila de um show da cantora Beyoncé.

O diretor explicou que a ideia inicial, concebida por ele e pela codiretora, Abigail Spindel (ambos estreantes na função) a partir de uma pequena nota lida em um jornal, era filmar um curta-metragem para o Youtube, mas que o projeto cresceu a partir da força dos seus personagens e das facilidades proporcionadas pela tecnologia digital. O maior desafio para os cineastas, que investiram numa filmagem econômica, com apenas trinta horas de material captado, foi ultrapassar a abordagem jornalística superficial para mergulhar de fato no cotidiano e na intimidade dos personagens.

Charlles Angels contou então o seu lado da história, explicando que a ideia de não apenas acampar para aguardar o show de Beyoncé, mas ser o primeiro da fila, surgiu após a decepção ocorrida em eventos anteriores, nos quais não conseguiu se aproximar da cantora. O personagem enfatizou o comprometimento e a organização dos fãs acampados, lembrando que o baixo poder aquisitivo da grande maioria deles os obrigava a conciliar o acampamento com jornadas de trabalho duplas ou até triplas. Angels citou como outros desafios enfrentados no processo a incompreensão das famílias e as agressões das pessoas ao redor, que incluíam xingamentos frequentes, garrafas de vidro sendo lançadas contra os acampados e até a tentativa de incendiar uma das barracas.

Monetti aproveitou a deixa para mencionar a cena do filme que mostra a convivência dos fãs de Beyoncé com as torcidas de futebol do estádio, considerada por Toledo como crucial para a compreensão da obra. Angels lembrou que os fãs e as torcidas, unidos pelo fanatismo - ainda que em relação a objetos radicalmente diferentes - não são tão distintos assim.

O debate então se abriu para o público, cujas perguntas demonstraram grande curiosidade em relação à recepção e à possibilidade de continuidade do projeto, assim como no que diz respeito à interação entre os realizadores e os fãs. Sobre a primeira questão, Toledo contou que o filme, que já participou de 27 festivais, teve uma carreira invertida, rodando o circuito internacional antes de estrear no Brasil. Confessou ainda que a recepção geral tem sido muito boa, mas que a princípio não pensa em dar continuidade ao projeto, embora não descarte a possibilidade de, daqui a dez ou quinze anos, revisitar seus personagens para entender o quanto eles se transformaram a partir da experiência de esperar pelo show e participar do filme.

Já sobre a segunda questão, o diretor lembrou o quanto seus personagens foram generosos, receptivos e carismáticos. “O elenco já estava pronto, só faltava o filme”, declarou. Angels, por sua vez, revelou o sonho de que a obra chegue um dia a Beyoncé. “Ainda não cheguei aonde quero. Mas tudo o que a gente passou valeu a pena. Cada segundo”, afirmou.

 

Texto: Clara Ferrer

Fotos: Jonathan Menezes




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