Publicado em 09/10/2016

Por Carlos Alberto Mattos

A maioria de nós relaciona Robert Doisneau (1912-1994) com a famosa foto “O Beijo do Hôtel de Ville” ou, no máximo, com as imagens captadas por ele nas ruas e subúrbios de Paris, com gente comum, vendedores do mercado Les Halles, crianças soltas pela cidade. O documentário ROBERT DOISNEAU: THROUGH THE LENS, dirigido e narrado por sua neta, Clémentine Deroudille, abre um pouco mais a janela sobre a produção desse icônico fotógrafo francês. Conhecemos sua produção em cores, sua onipresença em capas de revistas famosas, suas fotos publicitárias em que usava familiares como modelos e as fotos de moda (“Combinavam comigo tanto quanto um sutiã num soldado”). Enfim, Doisneau foi bem mais que o poeta em busca da beleza do cotidiano, embora seja essa a imagem que se fixou nele como os cristais de prata nas fotografias.

Clémentine adota um modelo biográfico formal para divulgar o que acontecia da máquina de Doisneau para trás. A casa onde ele viveu a maior parte da vida continua sendo o ateliê que abriga sua memória, conduzido pelas duas filhas. Elas contam, por exemplo, que, quando pequenas, só podiam tomar banho nos fins de semana porque o único banheiro era ocupado pelo laboratório do pai. O porteiro heroico que virou seu assistente pelo resto da vida é um dos diversos personagens-parceiros através dos quais sua carreira é contada. Outro é o poeta Jacques Prévert, companheiro de caminhadas que renderam alguns de seus melhores cliques. E ainda a atriz Sabine Azéma, com quem viveu uma paixão platônica.

O maior “defeito” não é do filme, mas dos cinemas. Não ter uma tecla de pausa para melhor contemplar as fotos de Doisneau é um pecado imperdoável das salas. Entre os materiais preciosos temos filmes com o fotógrafo em ação pelas ruas de Paris e fotos suas feitas nos EUA mas nunca publicadas. E, claro, um pequeno making of da foto do Beijo. Foram muitos beijos registrados em diversas partes de Paris com o casal de atores contratado. Até então não era comum ver gente se beijando na boca no meio da rua. Ou seja, pode-se dizer que Doisneau foi o homem que liberou o “french kiss”.




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