Publicado em 16/12/2019

A mostra Première Brasil exibiu no domingo (15/12/19) o documentário Flores do Cárcere, dirigido por Bárbara Cunha e Paulo Caldas a partir do livro homônimo de Flavia Ribeiro de Castro. O filme mostra histórias de ex-presidiária que anos depois visitam o presídio onde viviam, hoje abandonado. A mesa do debate foi mediada por Lana de Holanda, pesquisadora que trabalha com a questão de meninas e mulheres encarceradas; e contou com a presença dos diretores, da autora e de quatro personagens do filme: Xal, Chachá, Pérola e Mel.

Lana iniciou a conversa considerando Flores do Cárcere uma obra com a capacidade de todas e todos aqueles que ainda conservam humanidade e empatia. O projeto que deu origem ao filme começou em 2005 com Flavia, numa ocasião em que gravara diversas imagens numa prisão – presentes no filme. Ela quem fez o convite aos diretores para realizarem o documentário. Hoje, Flavia chefia a ONG Casa Flores, exercendo trabalhos com mulheres detentas.

Partindo de um filme que aborda a dificuldade de reinserção social de ex-presidiários, o debate sobre o sistema prisional marcou presença. Bárbara compartilhou que, durante a realização, percebeu quanto o sistema social é patriarcal, feudal e racista. Da plateia, surgiu a provocação: é possível imaginar um mundo sem prisões? Flavia acredita que sim, apesar de ser um longo caminho a ser construído. Ao seu ver, devem haver são espaços de proteção, não de punição. Os diretores concordam e acreditam que o filme pode ajudar a pensar a questão.

Além das personagens reais, Flores do Cárcere conta com a presença de duas atrizes que, segundo os diretores – inspirados por Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho –, entram em cena para brincar com o dispositivo do real e operam como uma união de histórias de várias mulheres.

As quatro personagens do documentário estavam gratas e emocionadas por verem suas histórias na tela do Cinema Odeon. Pérola espera que o filme possa transmitir que a pessoa encarcerada não é ruim, só precisa de oportunidades. Hoje, ela trabalha na ONG Casa Flores para ajudar mulheres numa atual situação em que já esteve. Segundo Chachá, na cadeia aprendeu a vida e a respeitar espaços. Hoje, trabalha com adolescentes e é rígida quando necessário. Ressalta a importância da educação e afirma que a falta dela gera falta de respeito e mentes vazias.

Mel espera que as mulheres que se encontram presas agora possam sair e criar seus filhos, suas famílias, e que as crianças tenham a estrutura necessária para compreender as diferenças entre o certo e o errado. Xal, agradecendo primeiro a si mesma por toda sua perseverança, espera mais união e transparência. Hoje, ela está se reaproximando de uma de suas filhas e escrevendo um livro para contar tudo o que viveu. Lana fez questão de sublinhar a importância que as personagens saibam que o filme serve não só para o futuro delas, mas para o de muitas outras pessoas; também para que não se esqueçam das sementes plantadas pelo caminho.

Ainda, falou sobre a importância do afeto, das redes de contato e de acolhimento em diferentes níveis a essas pessoas. O debate foi fechado com uma frase que Flavia tomou emprestada de Mel: “seja flor aonde for”.

Por: Marina Martins

Foto: Mariana Franco





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