Publicado em 08/10/2017

O filme surpreende: trata-se de um musical, numa fabrica ocupada por operários, num sistema que une resistência ao capitalismo predatório e autogestão. Fábrica de Nada, segundo longa-metragem do português Pedro Pinho chegou ao Festival do Rio com casa lotada e muito debate no Estação Net Rio 5. E não era para menos. Afinal, o filme ousa falar de crise num momento em que tanto se comenta sobre a boa fase da economia portuguesa, a ponto de atrair tantos brasileiros desiludidos com os rumos da economia por aqui.

_ O filme surgiu de ideia de Jorge Silva, e ele me permitiu transformar o texto num argumento com a condição de que eu mesmo dirigisse o filme. Reescrevemos a história porque eu queria adaptar o texto à minha maneira de ver o mundo. Filmamos num momento de crise em Portugal, em 2014 e 2015, e eu estava contaminado por este sentimento de impotência e de frustração que se vivia então. E o que se passa no filme tem a ver com isso _ comenta o diretor.

O filme ganhou o Prêmio Fipresci, da crítica internacional, no Festival de Cannes 2017. A ideia do roteiro foi sugerida por Jorge Silva a partir da peça de teatro A fábrica de Nada, de Judith Herzberg. O texto foi reescrito e muito transformado, o que transformou o filme de Pedro Pinho numa “versão energizante e divertida do agitprop para o século XXI”, segundo o comunicado do juri do Festival de Munique, onde Fábrica de Nada ganhou o Prêmio Cine Vision.

São três horas de um debate muito divertido sobre o drama da crise econômica no cotidiano da gente pobre. O filme não tem respostas fáceis e permite aos espectadores muita empatia com as dúvidas e dilemas dos personagens.

_ É uma fábrica que vai fechar e os operários se organizam para continuar a trabalhar e manter seus empregos. A ideia de fazer um musical veio da peça original. E quando fiz a adaptação achei que seria um bom desafio incluir cenas musicais em meio a um filme que faz de um tema pesado. Portanto, foi para mim uma maneira de dar uma luz a esta escuridão toda que estávamos a viver naquela altura _ comenta o cineasta.

Ele também fala sobre o novo momento da economia em Portugal, que voltou a crescer e parece ter superado os momentos de depressão. 

_ Este momento de crise de Portugal começou a passar, há uma nova conjuntura política e há um crescimento econômico que começou a acentuar-se. Vive-se agora outro momento, apesar de nada estrutural ter mudado. Considero que as condições para o desastre em que vivemos naqueles anos de crise estão lá. O que aconteceu foi uma mudança superficial, que é importante porque muda as perspectivas e muda a vida das pessoas, mas por baixo disso há uma série de problemas que se mantêm… _ ressalta o diretor.

Sobre a passagem do seu filme no Festival do Rio, Pedro Pinho tem esperança de que seu filme possa suscitar um bom debate:

_ O Festival do Rio é muito importante para mim, especialmente porque o Brasil é a pátria do meu segundo filho. E também porque há um momento propício para que as questões deste filme sejam debatidas. Fiz este filme num momento de desencanto, como o que se está vivendo agora no Brasil. Acho que meu filme tem muito a dizer aos brasileiros _ conclui Pedro


Saiba Mais sobre os horários de exibição:

A Fabrica de Nada, de Paulo Pinho. Portugal. Ficção.177min.

​Uma noite, um grupo de operários descobre que a administração vem roubando máquinas e matéria-prima de sua própria fábrica. Ao decidirem se organizar para proteger os equipamentos e impedir o deslocamento da produção, os operários são forçados a permanecer nos seus postos sem nada para fazer, enquanto as negociações para demissões avançam. Uma reflexão sobre o papel do trabalho humano em tempos em que a crise se tornou uma forma de governo. Prêmio FIPRESCI na Quinzena dos Realizadores, Cannes 2017.​

http://www.festivaldorio.com.br/br/filmes/a-fabrica-de-nada



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