Publicado em 13/10/2016

O Cine Encontro recebeu nesta quinta (13) a diretora Emília Silveira, a roteirista Margarida Autran e a produtora Rosane Hatab para uma conversa sobre o documentário Galeria F, que faz parte da mostra Retratos Falados. O filme conta a história de Theodomiro Romeiro dos Santos, membro do Partido Comunista durante a ditadura militar que escapou da prisão após cumprir pena por oito anos, e o acompanha enquanto refaz o trajeto de sua fuga junto de seu filho, quarenta anos depois. O debate foi mediado pelo crítico de cinema Carlos Alberto Mattos.

Mattos iniciou a discussão relacionando o filme ao trabalho anterior de Silveira, o documentário Setenta, que relata o episódio do sequestro do embaixador suíço por guerrilheiros em 1970. O mediador apontou que essas obras trazem uma perspectiva pessoal e humana dos personagens que enfrentaram a ditadura, demonstrando um fascínio pela “história com H minúsculo”. A diretora, ex-presa política, respondeu que não se considera uma “cineasta da ditadura”, ou seja, interessada unicamente nesse assunto, mas que seu foco está em encontrar histórias relevantes sobre o passado para ajudar as gerações atuais a entenderem o tempo presente.

Em seguida, Autran relatou que a ideia para o documentário surgiu durante a estreia de Setenta, quando chegou ao seu conhecimento que Santos havia recentemente deposto para a Comissão Nacional da Verdade. A roteirista, que era próxima dos membros do Partido Comunista, acrescentou que foi falar com a documentarista imediatamente para convencê-la a fazer o filme. Silveira contou que sua impressão inicial ao conhecer Santos foi de estar diante de uma pessoa que sofria de falta de emoção devido aos traumas passados, mas revelou que no decorrer das filmagens descobriu que ele é também um homem doce e carinhoso. Segundo a realizadora, a montagem de Joana Collier buscou mostrar cada uma dessas facetas da personalidade do retratado.

Hatab explicou como foi realizada a produção do documentário, principalmente a parte que acompanhou Santos na recriação de sua fuga através do interior da Bahia. Naquelas regiões remotas, relatou, era muitas vezes difícil encontrar lugares para comer e dormir, e agradeceu a todos os integrantes da equipe pela dedicação e compreensão de que aquelas eram circunstâncias inusuais e inevitáveis. Nesse momento, Silveira recomendou a quem queira fazer filmes sobre viagens que uma boa pré-produção é essencial nesses casos.

Aproximando-se o fim do debate, Mattos lembrou que esse documentário pode acabar sendo proibido de ter exibições em escolas, e a diretora reforçou que espera que seu filme traga reflexões que possam ser projetadas para o cenário político atual e que gerem manifestações contra retrocessos.

Texto: Vinícius Spanghero

Fotos: Jonathan Menezes




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