Pedaço de Mim: Anne-Sophie Bailly revela o processo de criação do seu filme, multipremiado em Veneza Drama premiado em Veneza integra a Mostra Expectativa do Festival do Rio 2024.
Pedaço de Mim, de Anne-Sophie Bailly
Por Rodrigo Torres
Anne-Sophie Bailly está tendo sucesso com seu primeiro longa-metragem. Mês passado, Pedaço de Mim (Mon Inséparable) participou da Mostra Orizzonti do Festival de Veneza 2024 e saiu de lá com três prêmios. Agora o filme integra a Mostra Expectativa do 26º Festival do Rio e vem encantando as plateias com seu olhar sensível de uma mãe solteira e seu filho com necessidades especiais.
Em visita ao Rio de Janeiro, a simpática Anne-Sophie conta que o Pedaço de Mim parte de uma situação “arrebatadora” que testemunhou em sua adolescência, acompanhando sua mãe, que trabalhava como enfermeira, em uma instituição para idosos.
“Minha primeira inspiração para esse filme surgiu quando eu vi uma mulher de 80 anos que, após sofrer alguns problemas de saúde, foi internada nessa instituição junto com a sua filha, que tinha 60 anos, era muito mais nova que as outras pessoas ali, era fisicamente plena e funcional, mas tinha alguns problemas cognitivos e intelectuais. Aquela imagem foi muito poderosa para mim” diz Anne-Sophie.
Pedaço de Mim, de Anne-Sophie Bailly no Festival do Rio 2024 — Foto: Rogerio Resende/Festival do Rio
“Elas tinham uma relação de interdependência profunda”, ela lembra, contando que testemunhava muitos desentendimentos entre as duas, mas que o que sobressaía daquela relação de “dependência” entre mãe e filha era “um amor profundo”. “Eu sempre fui muito inspirada por mães em geral, a minha me inspira muito, e tem todo esse processo de cuidar do outro, que é geralmente atribuído à mulher em nossa sociedade, mas o ponto de partida de Pedaço de Mim é essa imagem”.
Portanto, Pedaço de Mim parte dessa relação entre mãe e filha para contar a história de Mona, uma mulher de meia-idade que vive em um apartamento pequeno com seu filho adulto Joël, que é uma pessoa "especial". Questionada se tinha a intenção de se distanciar da personagem ao transformar a mulher Yolande no homem Joël, Anne-Sophie explicou que não, pelo contrário: ela se identifica bastante com as personagens de Laure Calamy (Mona) e Charles Peccia (Joël).
Pedaço de Mim, de Anne-Sophie Bailly
"Na verdade, eu me sinto muito perto de Mona e muito perto de Joel também. Os dois ecoam muito em mim. E, quanto à questão do gênero, eu acho que, como eu escrevi um monte de mulheres, eu me senti feliz de conhecer essa figura masculina muito peculiar e divertida, sabe? Porque os homens que eu escrevi antes de Joël não eram esse tipo de personagem. E eu realmente gostei de conhecê-lo enquanto o escrevia", disse a diretora e roteirista, esclarecendo que o personagem foi criado antes de conhecer Charles Peccia — mas, sim, o ator foi fundamental na construção de Joël no set.
"Eu desenvolvi bastante o personagem, eu conhecia muito o Joël quando escolhi o Charles. Mas um ator sempre traz sua própria energia para o personagem. Charles é muito social, muito afetuoso, ele gosta de tocar as pessoas, ele tem essa leveza de abraçá-las.... E isso contagiou o filme de um jeito muito bonito", disse Anne-Sophie, visivelmente emocionada, com os olhos marejados. A produção de Pedaço de Mim foi, portanto, um organismo vivo, com uma contribuição significativa do elenco no processo de criação.
Pedaço de Mim, de Anne-Sophie Bailly
"Eu decidi fazer cinema por causa dos atores, eu trabalhei como atriz, inclusive... Eles são a razão pela qual eu gosto de fazer cinema. Então, para mim, esse processo não é sobre colocar as pessoas dentro de uma forma rígida, mas moldar o contorno dessas pessoas — e essas são duas coisas diferentes", diz Anne-Sophie, concluindo com uma síntese bonita de Pedaço de Mim: "Fazer cinema para mim nunca é um processo fechado, nunca é sobre ter a imagem ou a cena perfeita, é sobre ter a imagem mais honesta".
Confira essa bonita visão que Anne-Sophie Bailly tem do cinema e seu processo de criação assistindo às últimas sessões de Pedaço de Mim:
DOM 13/10 18:45 Kinoplex São Luiz 4
TER 15/10 21:45 Estação NET Gávea 5
- Apocalipse nos Trópicos: Petra Costa explora o Juízo Final da relação entre Igreja e Estado no Brasil
- Serra das Almas: Lírio Ferreira exalta a importância dos atores e das atrizes em filme com grande elenco
- Interceptado denuncia a crueldade e o rastro de destruição deixado pela Rússia na invasão da Ucrânia
- Paradeiros discute como a falta de Estado provoca falta no indivíduo até no momento de enterrar um ente querido
- Retrato de Um Certo Oriente: viagem de Beirute a Manaus atravessa fronteiras de cultura e identidade
Leia mais:
- Apocalipse nos Trópicos: Petra Costa explora o Juízo Final da relação entre Igreja e Estado no Brasil
- Serra das Almas: Lírio Ferreira exalta a importância dos atores e das atrizes em filme com grande elenco
- Interceptado denuncia a crueldade e o rastro de destruição deixado pela Rússia na invasão da Ucrânia
- Paradeiros discute como a falta de Estado provoca falta no indivíduo até no momento de enterrar um ente querido
- Retrato de Um Certo Oriente: viagem de Beirute a Manaus atravessa fronteiras de cultura e identidade
Voltar