Terence Davies em busca da delicadeza Novo filme do diretor inglês, na mostra Panorama, adapta romance clássico situado na Escócia
Por Cesar Castanha (Talent Press Rio)
Em Amor profundo, de Terence Davies (2011), o corpo de Rachel Weisz deitado no chão à espera da morte abre caminho para uma série de observações sobre a Inglaterra e sobre as interações familiares e íntimas que de alguma maneira constroem a História do país e de seu povo. Assim, a história privada de uma mulher que não ama seu marido, mas outro homem, está amarrada ao contexto da Segunda Guerra Mundial. O pessoal e o social precisariam, então, se reconhecer um ao outro para poderem superar certa melancolia individual e coletiva.
A canção do pôr-do-sol, obra seguinte do diretor, em exibição na mostra Panorama do Festival do Rio, parece querer chegar ao mesmo ponto. Adaptação do livro do escocês Lewis Grassic Gibbon, o filme apresenta a história de Chris Guthrie (Agyness Deyn), a filha de um camponês que herda a terra do pai cruel (Peter Mullan) e experimenta um período de independência do patriarcado antes de se casar, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, e ver seu marido (Kevin Guthrie) ser transformado pelo conflito com a Alemanha. É também, como a narração em off repete insistentemente, uma história sobre a terra e como ela sobrevive a todos nós.
Este filme, no entanto,tem mais dificuldade em encontrar a mesma delicadeza na abordagem do tema e dos personagens que o anterior. Na verdade, ele parece tão envolvido em encontrar essa delicadeza, uma cena após a outra, que resulta num excesso de solenidade, como uma assinatura estética mal-resolvida. O que temos, então, é uma tentativa frustrada de sutilidade que se revela, por exemplo, nas atuações naturalistas e no tom realista que o filme, de forma geral, coloca.
A narração em off, que pode terminar sendo o pior aspecto do filme, revela também algo de sua aproximação mal-sucedida com a literatura. O que é uma pena. Se Amor profundo foi acertadamente comparado a Desencanto, de David Lean (1944), A canção do por do sol está longe da habilidade de Lean de fazer dialogar cinema e literatura, como o mestre britânico faz com perfeição em Oliver Twist (1948) e Grandes esperanças (1946).
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