Publicado em 04/07/2025

Parte de Mim e Apocalipse nos Trópicos estão entre as principais estreias desta quinta-feira (3) — Foto: divulgação/Filmes do Estação/O2 Play/Netflix

Um drama sobre os laços de afeto entre mãe e filho que escapa da romantização da maternidade sem deixar de apresentar um olhar belo sensível. Um filme de perspectiva ensaística sobre as metamorfoses no perfil religioso brasileiro e suas implicações nos ventos que impulsionam as velas políticas do país. Uma produção francesa, outra brasileira.

Além de serem duas das principais estreias no circuito brasileiro de salas de cinema na última quinta-feira (3), os longas-metragens Parte de Mim e Apocalipse nos Trópicos têm em comum a direção de cineastas mulheres e a presença destacada na programação do 26º Festival do Rio (2024). Conheça mais sobre cada um dos lançamentos da semana, que o público no Rio de Janeiro teve a chance de assistir primeiro no maior encontro de cinema da América Latina.

Pedaço de Mim, de Anne-Sophie Bailly — Foto:divulgação/Filmes do Estação
Pedaço de Mim, de Anne-Sophie Bailly — Foto:divulgação/Filmes do Estação

Longa-metragem de estreia da cineasta francesa Anne-Sophie Bailly, Pedaço de Mim (Mon Inséparable) foi exibido na mostra Expectativa do Festival do Rio 2024 após passar pelo Festival de Veneza e conquistar três prêmios idependentes, incluindo o de melhor direção para autores com menos de 40 anos e o Premio Speciale Film Impresa.

Na trama, a protagonista Mona (Laure Calamy) vive em um pequeno apartamento com seu filho adulto Joël (Charles Peccia), que é uma pessoa "especial", como dizem ao usar o termo que ela mesma detesta. 

O rapaz está apaixonado por uma colega de trabalho com quem compartilha uma jornada de vida similar, mas Mona desconhece o relacionamento dos dois. Quando Océane (Julie Froger), que também é uma pessoa com deficiência, engravida, o vínculo entre mãe e filha sofre o principal teste da vida de ambos.

Anne-Sophie Bailly na sessão de Pedaço de Mim realizada no Estação NET Botafogo durante o 26º Festival do Rio — Foto: Rogério Resende/Festival do Rio
Anne-Sophie Bailly na sessão de Pedaço de Mim realizada no Estação NET Botafogo durante o 26º Festival do Rio — Foto: Rogério Resende/Festival do Rio

Em passagem pelo Brasil para promover o longa-metragem, na edição de 2024 do festival, Bailly concedeu uma entrevista para o site do Festival do Rio e explicou que a ideia de Pedaço de Mim surgiu de uma cena que a marcou na adolescência, quando acompanhava a mãe enfermeira num asilo e testemunhou a relação intensa entre uma mulher de 80 anos e sua filha adulta com deficiências cognitivas. 

Ela lembrou que, apesar dos conflitos, o que prevalecia era um amor profundo e uma dependência mútua entre as duas. Para Bailly, aquela imagem representou o cerne da história que ela queria contar: a dinâmica profunda entre mãe e filho que se desdobra em cena na relação entre a protagonista Mona e seu filho Joël.

Pedaço de Mim, de Anne-Sophie Bailly — Foto:divulgação/Filmes do EstaçãoPedaço de Mim, de Anne-Sophie Bailly — Foto:divulgação/Filmes do Estação

"Eu me sinto muito perto de Mona e muito perto de Joel também", explicou a cineasta e roteirista ao explicar o motivo de ter criado um personagem masculino originalmente inspirado em uma figura feminina. "Os dois ecoam muito em mim. E, quanto à questão do gênero, eu acho que, como eu escrevi um monte de mulheres, eu me senti feliz de conhecer essa figura masculina muito peculiar e divertida, sabe? Porque os homens que eu escrevi antes de Joël não eram esse tipo de personagem. E eu realmente gostei de conhecê-lo enquanto o escrevia."

Segundo ela, o elenco, especialmente Charles, trouxe energia própria ao personagem, acrescentando calor humano ao longa. Bailly afirmou que seu processo artístico valoriza os atores, pois ela vem da atuação e acredita na interação colaborativa. "Fazer cinema para mim nunca é um processo fechado, nunca é sobre ter a imagem ou a cena perfeita, é sobre ter a imagem mais honesta", disse.

Apoocalipse nos Trópicos, de Petra Costa — Foto: divulgação/O2 Play/Netflix
Apoocalipse nos Trópicos, de Petra Costa — Foto: divulgação/O2 Play/Netflix

Após competir pelo Troféu Redentor na Première Brasil em 2024, Petra Costa lança Apocalipse nos Trópicos, uma espécie de sequência espiritual de Democracia em Vertigem (2019), filme indicado ao Oscar de melhor documentário que explorou o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão da extrema-direita no Brasil.

A cineasta, que na última década se posicionou como uma voz relevante do cinema documental brasileiro — muito em função de sua assinatura autoral, intimista e autobiográfica — parte dos temas explorados no filme anterior para investigar a crescente influência que líderes evangélicos exercem sobre a política brasileira.

Petra Costa e equipe do filme Apocalipse nos Trópicos durante conversa com o público durante o programa Première Brasil Debates — Foto: Kayane Dias/Festival do Rio
Petra Costa e equipe do filme Apocalipse nos Trópicos durante conversa com o público durante o programa Première Brasil Debates — Foto: Kayane Dias/Festival do Rio

Com acesso privilegiado a figuras como o Lula, Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia, o documentário é fruto de "quatro anos de trabalho árduo", como definiu a diretora em conversa com o público do Festival do Rio em uma sessão do projeto Première Brasil Debates.

A diretora explicou que o projeto começou na pandemia, quando ela começou a acompanhar a reação à crise sanitária na favela de Paraisópolis, na cidade de São Paulo, onde acabou observando a ação de líderes evangélicos na comunidade. 

Ao notar que um desses pastores que se recusava a fechar sua igreja durante a época em que o isolamento social era necessário para preservar vidas era influenciado pelo influente líder evangélico Silas Malafaia, Petra entendeu que o filme precisava tomar outra direção. “Eu tinha tantas dúvidas e tantas curiosidades sobre como esse movimento cresce tão rápido e como essa fé começa a tomar uma força política tão grande”, contou a cineasta.

Petra Costa agradece Troféu Redentor de Melhor Longa-Metragem Documentário pelo Júri Oficial, entregue ao filme Olmo e a Gaivota na cerimônia de premiação do Festival do Rio 2015 — Foto: Ciadafoto/Festival do Rio
Petra Costa agradece Troféu Redentor de Melhor Longa-Metragem Documentário pelo Júri Oficial, entregue ao filme Olmo e a Gaivota na cerimônia de premiação do Festival do Rio 2015 — Foto: Ciadafoto/Festival do Rio

Costa tem uma longa relação com o Festival do Rio e já venceu o Troféu Redentor de Melhor Documentário na Première Brasil em 2015, por seu trabalho em Olmo e a Gaivota. Anos antes, a diretora venceu o prêmio de Melhor Curta-Metragem na Première Brasil por Olhos de Ressaca, um dos destaques do Festival do Rio 2009.


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