Festival do Rio marca presença em Cannes no ano em que o Brasil é homenageado na Marché du Film e disputa a Palma de Ouro Um guia completo sobre os destaques brasileiros na programação oficial, nas mostras paralelas e nos eventos de mercado realizados em Cannes
A 78ª edição do Festival de Cannes teve início na última terça-feira (13), com uma cerimônia de abertura que celebrou o cinema e homenageou o ator Robert De Niro com a Palma de Ouro Honorária. No dia seguinte, começou a aguardada competição oficial, com a exibição do drama alemão
Sound of Falling, de Mascha Schilinski, disputa que segue até o próximo sábado, dia 24 de maio, quando serão revelados os vencedores da Palma de Ouro.
Porém, para além das múltiplas mostras dedicadas às novidades do cinema mundial, o Festival de Cannes se desdobra em uma vasta programação focada na indústria audiovisual, com encontros estratégicos entre realizadores e profissionais de todo o mundo.
Foi dentro desse contexto que o Festival do Rio marcou presença no Marché du Film, o maior mercado cinematográfico do mundo e parte integrante do Festival de Cannes, na tarde do último sábado (17), em um encontro dedicado ao cinema brasileiro dentro do programa Goes to Cannes.
MinC e Festival do Rio apresentam projetos
MinC e Festival do Rio levam cinco filmes brasileiros a Cannes por meio de edital — Foto: João Meireles
A convite do Ministério da Cultura e da Secretaria do Audiovisual (MinC/SAv) do órgão federal, o Festival do Rio foi um dos anfitriões do evento dedicado a projetos brasileiros em diferentes estágios de finalização na Marché du Film. O encontro foi realizado na sala de exibições do Palais K na tarde do último sábado, 17 de maio, em Cannes.
A iniciativa Goes to Cannes, que o Festival do Rio integra em 2025, convida festivais internacionais a apresentarem projetos de seus países em diversos estágios de finalização a agentes de vendas, distribuidores e programadores de festivais do mundo todo, a fim de amplificar as possibilidades de circulação desses trabalhos pelos mais diferentes mercados.
Clarice Vê Estrelas, de Letícia Pires — Foto: Luminar/Instituto Vini Jr./Aurora
Com curadoria do Festival do Rio a partir de edital público promovido pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MinC), foram selecionados cinco projetos que refletem a diversidade de abordagens estéticas e temáticas do cinema brasileiro contemporâneo. Trechos de cada um desses filmes foram exibidos na ocasião. Os projetos são:
- Eu Vou Ter Saudades de Você (Amanda and Caio), de Daniel Ribeiro, produção da Lacuna Filmes. Um retrato afetivo sobre os impasses do amor romântico e os caminhos de amadurecimento de um casal jovem.
- Clarice Vê Estrelas (Clarice and the Stars), de Leticia Pires, produção da Aurora E2 e Luminar. Uma fábula infantojuvenil sobre a imaginação como ferramenta de transformação diante das mudanças da vida.
- Não Estamos Sonhando (We Are Not Dreaming), de Ulisses Arthur, produção da Céu Vermelho Fogo Filmes. Um mergulho sensível na experiência negra no Brasil contemporâneo, entre a formação acadêmica e os espaços de resistência.
- Virtuosas (Virtuous Women), de Cíntia Domit Bittar, produção da Novelo Filmes. Um suspense psicológico ambientado em um retiro cristão feminino, onde a opressão moral encontra o sobrenatural.
- Criadas (Sistermaids), de Carol Rodrigues, produção da Gato do Parque Cinematográfica. Um drama que entrelaça memória, herança e tensões raciais a partir do reencontro de duas primas criadas sob condições desiguais.
Clique neste link para ler as sinopses oficiais de cada um dos projetos.
Eu Vou Ter Saudades de Você, de Daniel Ribeiro — Foto: Lacuna Filmes
"Os cinco projetos que estamos levando ao Goes to Cannes abrangem uma ampla gama do cinema brasileiro, da sátira política às histórias de amadurecimento, trazendo luz para novas discussões sobre questões de gênero e a comunidade LGBTQIAPN+", comentou Ilda Santiago, diretora-executiva do Festival do Rio, quando os cinco longas-metragens selecionados foram anunciados.
Para ela, essa visibilidade internacional acontece em um momento histórico para o setor: "Acredito que essa seleção também revela a ambição da nossa indústria de dialogar com o mercado global e alcançar novos públicos. É o resultado de anos de trabalho — e um Oscar ajuda, sim, a dar visibilidade a tudo isso", disse, em referência ao sucesso internacional de Ainda Estou Aqui, que conquistou vitórias históricas no Oscar, Globo de Ouro e Festival de Veneza.
"A cena de profissionais que está aqui hoje representa bem a diversidade do nosso país como um todo", afirmou a secretária do Audiovisual, Joelma Gonzaga, durante a sessão do programa Festival do Rio Goes to Cannes. "Ao pensarmos um edital como esse, estamos garantindo que o Brasil esteja presente não só com estrutura e homenagens, mas com seus profissionais, com sua pluralidade de olhares. Essa é a forma mais eficaz de ocuparmos esses espaços de maneira representativa", completou.
Brasil é País de Honra na Marché du Film
Foto: © Marché du Film/Alexandra Fleurantin
Este ano, a participação brasileira na Marché du Film é banhada pela luz de um holofote muito especial: o Brasil é o País de Honra (Country of Honour / Pays d’Honneur) da edição, com uma programação robusta que contempla, além da vitrine especial para projetos em desenvolvimento do programa Goes to Cannes, estreias, eventos de indústria, homenagens e sessões especiais. A presença do Festival do Rio no evento simboliza um novo momento de apreciação global da produção nacional, com projetos em exibição e profissionais convidados em diferentes frentes do evento.
Reconhecido como uma plataforma estratégica para negócios e parcerias internacionais, o Marché du Film reúne mais de 15 mil participantes de 140 países. São cerca de 600 expositores, 1.500 sessões de exibição, 250 eventos voltados à indústria e mais de 20 programas especializados. Trata-se do centro nervoso da indústria audiovisual durante o Festival de Cannes — e o espaço ideal para o cinema brasileiro apresentar sua diversidade criativa, seus talentos emergentes e seu potencial de internacionalização.
A iniciativa que posiciona o Brasil como País de Honra da Marché du Film celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e França e é organizada pelo Ministério da Cultura do Brasil (MinC) em colaboração com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), com apoio do Instituto Guimarães Rosa (IGR), da Embaixada do Brasil em Paris e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Na Palais 1, no coração da Marché du Film, três estandes dedicados à delegação brasileira foram montados para favorecer encontros que possam impulsionar possibilidades de coprodução e incentivar o cinema brasileiro.
Outros destaques do Brasil na MdF
Foto: © Marché du Film
Além da sessão especial Festival do Rio Goes to Cannes, a Marché du Film deste ano recebeu um encontro realizado pela Cannes Docs com um showcase de documentários brasileiros em fase de desenvolvimento, trouxe compositores brasileiros para o programa Spot the Composer e terá profissionais brasileiros no programa de mentoria intensiva Cannes Makers.
Na próxima segunda-feira (19), o programa Producers Network, que visa impulsionar oportunidades de coprodução e networking, apresentará ao mercado internacional cinco produtores brasileiros e seus mais recentes trabalhos. Estarão presentes na mesa os profissionais Nara Aragão (Carnaval Filmes), Diogo Dahl (Coqueirão Pictures), Marcus Ligocki Júnior (Mercado Filmes), Keyti Souza (Têm Dendê) e Juliana Vicente (Preta Portê Filmes).
Além disso, quatro conferências dedicadas às questões do audiovisual brasileiro compõem a programação institucional do Brasil na Marché du Film.
- Ecossistema Audiovisual e as Instituições Brasileiras (realizada no dia 15 de maio)
- Shoot the Book! | Masterclass: O Mercado Brasileiro de Adaptação de Propriedades Intelectuais (realizada no dia 15 de maio)
- Com Quem Podemos (Co)Produzir no Brasil? (agendada para este domingo, 18 de maio)
- A Indústria Audiovisual Brasileira: Diálogo com os Principais Atores do Setor (agendada para segunda-feira, 19 de maio)
A primeira apresentou um panorama do ecossistema audiovisual brasileiro e o papel de suas instituições públicas. A segunda, em formato de masterclass, debateu o mercado nacional de adaptações literárias. A terceira destaca associações brasileiras abertas à coprodução internacional. Por fim, a quarta traz representantes dos setores de produção, distribuição e exibição em um encontro com parceiros globais
Outro destaque dessa ampla agenda de encontros internacionais será o Producers Club (Lerins), marcado para terça-feira, 20 de maio. Parte do Co-Production Day da Marché du Film, o evento reunirá produtores franceses e uma seleção de dez produtoras brasileiras que apresentarão seus projetos e catálogos em busca de parcerias internacionais. O encontro é organizado em parceria com o órgão francês CNC (Centro Nacional do Cinema e da Imagem Animada).
Este breve panorama é apenas um recorte possível da extensa programação dedicada à produção brasileira na Marché du Film, que se estende até o dia 21 de maio, quarta-feira. Para conhecer a programação completa, acesse a página especial dedicada à iniciativa Brasil, País de Honra no site oficial do evento.
Brasil nas telas do Festival de Cannes
Wagner Moura em O Agente Secreto, de Kléber Mendonça Filho — Foto: divulgação/©Cinemascópio/MK Production/One Two Films/Lemming
Fora do mercado, os filmes brasileiros também têm lugar de destaque nas telas e no tapete vermelho da programação oficial e nas mostras paralelas do Festival de Cannes.
Na Competição Oficial, O Agente Secreto, novo longa de Kleber Mendonça Filho, concorre à Palma de Ouro. A produção é ambientada Brasil de 1977 e acompanha Marcelo (Wagner Moura, vencedor do Troféu Redentor de Melhor Ator por VIPs no Festival do Rio 2010), um especialista em tecnologia que foge de São Paulo para Recife. Ele chega à capital de Pernambuco durante a semana do Carnaval na esperança de reencontrar seu filho, mas logo percebe que a cidade não é o refúgio que ele imaginava ser. A sessão foi realizada neste domingo, 18 de maio, às 15h do horário local (10h no horário de Brasília), no cinema do Grand Théâtre Lumière.
"Queria há um tempo desenvolver um filme para Wagner. Além de ser um grande ator, é uma grande pessoa", declarou Kleber ao jornal O Globo. "Ele poderia ter chegado dois dias antes das filmagens, mas quis chegar um mês antes ao Recife. Passou um mês ensaiando, trabalhando, andando. Acho que ele não queria se sentir um estrangeiro trabalhando no Brasil."
O Agente Secreto, de Kléber Mendonça Filho — Foto: divulgação/©Cinemascópio/MK Production/One Two Films/Lemming
Kleber Mendonça Filho tem uma trajetória marcada por diversas participações na programação do Festival do Rio. Nas telas cariocas, o diretor exibiu os curtas A Menina do Algodão (2003), em parceria com Daniel Bandeira; Eletrodoméstica (2005); Noite de Sexta, Manhã de Sábado (2007); seu primeiro longa-metragem documental, Crítico (2008); e seu primeiro longa-metragem de ficção, O Som ao Redor (2012), que conquistou os prêmios de Melhor Filme de Ficção e Melhor Roteiro na Première Brasil.
Para Vigo Me Voy!, de Lírio Ferreira e Karen Harley
Na mostra Cannes Classics, o documentário Para Vigo Me Voy!, de Lírio Ferreira e Karen Harley, revisita a obra de Cacá Diegues e presta homenagem ao cineasta, falecido em fevereiro deste ano. A obra mistura trechos de seus filmes, entrevistas e registros inéditos, incluindo sua última filmagem e um encontro final com artistas que marcaram sua carreira. O filme será exibido na próxima segunda-feira, 19 de maio, no Buñuel Theatre.
Curtas brasileiros na Quinzena dos Diretores
A 10ª edição do Director’s Factory, dentro da Quinzena dos Diretores, é totalmente voltada para o cinema brasileiro em 2025, com foco especial para produções cearenses que celebram “o poder da criação coletiva”, de acordo com o site oficial da iniciativa.
Um dos mentores do programa é o diretor brasileiro Karim Aïnouz, que disputou a Palma de Ouro em 2024 com Motel Destino, foi primeiro brasileiro a vencer o prêmio principal da mostra Un Certain Regard com o drama A Vida Invisível e é dono de uma trajetória multipremiada no Festival do Rio, sendo o maior vencedor do Troféu Redentor de Melhor Direção da história da Première Brasil.
O programa Directors' Factory Ceará-Brasil 2025 conta com quatro curtas-metragens dirigidos em parceria por brasileiros e cineastas internacionais:
- Ponto Cego (Blind Spot), de Luciana Vieira e Marcel Beltrán, sobre a solidão feminina em ambientes masculinos.
- A Vaqueira, a Dançarina e o Porco (The Cowgirl, The Showgirl and The Pig) de Stella Carneiro e Ary Zara, um western queer de tons surreais.
- Como Ler o Vento, de Bernardo Ale Abinader e Sharon Hakim, sobre herança e ancestralidade.
- A Fera do Mangue (A Beast In The Mangrove), de Wara e Sivan Noam Shimon, uma fábula mitológica sobre vingança e espiritualidade.
Presenças especiais, homenagens e coproduções
Ricardo Teodoro, Marcelo Caetano e João Pedro Mariano na sessão de Baby no Festival do Rio 2024 — Foto: Cláudio Andrade/Festival do Rio
O diretor Marcelo Caetano — diretor de Baby, vencedor do Troféu Redentor de Melhor Longa-Metragem de Ficção no Festival do Rio 2024 — participa do júri do prêmio Queer Palm, premiação realizada pelo Festival de Cannes voltado a filmes com temática LGBTQIAPN+. Antes de se destacar na Première Brasil, Baby foi exibido na 63ª Semana da Crítica de Cannes, no ano passado, onde Ricardo Teodoro, coprotagonista do filme, foi o vencedor do prêmio de Melhor Ator Revelação.
Já a cineasta Marianna Brennand será homenageada neste domingo (18) com o Emerging Talent Award, concedido pelo programa Women In Motion, do Festival de Cannes, com apoio de 50 mil euros para o desenvolvimento de seu próximo longa. Ela se tornou a primeira cineasta brasileira a receber a honraria.
Jamilli Correa e Marianna Brennand na sessão de Manas no Festival do Rio 2024 — Foto: Cláudio Andrade/Festival do Rio
"Ser a primeira brasileira a receber o Women in Motion Emerging Talent Award é uma conquista que carrega força coletiva", disse Marianna em entrevista à Vogue. A cineasta participou da competição principal da Première Brasil em 2024 com Manas, que recentemente estreou nos cinemas brasileiros após vencer o Prêmio Especial do Júri no Festival do Rio pela atuação da jovem protagonista Jamilli Correa. "Traz visibilidade não só pra mim, mas pra todas as mulheres incríveis que constroem o cinema ao meu lado — colegas, parceiras, amigas de jornada. Receber esse prêmio ao lado de Nicole Kidman, que tem um compromisso público com a representatividade feminina e se propôs a trabalhar com uma diretora mulher por ano, torna tudo ainda mais simbólico", completou.
O Riso e a Faca, de Pedro Pinho — Foto: divulgação/Uma Pedra no Sapato
Na mostra Un Certain Regard, a segunda mais importante do Festival de Cannes, o Brasil marca presença com O Riso e a Faca, coprodução entre Portugal, Brasil, França e Romênia dirigida pelo português Pedro Pinho. Com trilha de Tom Zé, autor da canção que empresta seu nome para o filme, e participação dos atore brasileiros Jonathan Guilherme e Renato Sztutman, o longa conta ainda com a brasileira Tatiana Leite na produção.
Rodado na Guiné-Bissau e no deserto da Mauritânia, o longa será lançado no Brasil pela Vitrine Filmes. O roteiro de O Riso e a Faca traz a história de um engenheiro ambiental português que foi alocado para trabalhar em uma grande cidade da África Ocidental e desenvolve uma relação com dois moradores da metrópole enquanto atua no desenvolvimento de um projeto rodoviário que passa pelo deserto e pela selva.
A Cobra Preta, de Aurélien Vernhes-Lermusiaux — Foto: divulgação/Vulcana Cinema/Burning/Dublin Films
Já na mostra paralela ACID, dedicada ao cinema independente, estreia A Cobra Preta, coprodução da empresa brasileira Vulcana Cinema com companhias da França e Colômbia. Jessica Luz e Paola Wink assinam a produção e a direção é do cineasta francês Aurélien Vernhes-Lermusiaux.
Por fim, o Brasil também está representado no La Résidence, programa de desenvolvimento de roteiros do Festival de Cannes, com a presença de Rodrigo Ribeyro, que ano passado participou da competição de curtas-metragens da Première Brasil com o filme A Natureza. O cineasta desenvolve Muganga, uma ficção científica sobre amizade, isolamento e catástrofe ambiental.
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