Publicado em 16/05/2025


Manas e Animale estão entre as principais estreias da semana — Foto: divulgação/Paris Filmes/Pandora Filmes

Duas produções que amplificam vozes femininas em ascensão chegam estrearam nos cinemas brasileiros na última quinta-feira (15): o drama social Manas, que mescla denúncia e sensibilidade ao abordar o tema da exploração sexual de crianças e adolescentes na Ilha do Marajó (PA), e Animale, que parte de uma premissa realista, explora o território da fantasia e chega a flertar com o cinema de gênero ao retratar uma protagonista que tem a ousadia de encarar um contexto masculino hostil.

Os filmes são dirigidos, respectivamente, pela realizadora brasileira Marianna Brennand, que apresentou seu projeto na competição principal da Première Brasil no Festival do Rio 2024, e pela cineasta franco-argelina Emma Benestan, que assina o filme selecionado para a mostra Expectativa, dedicada a novos talentos da direção, na mesma edição do festival.

Manas, de Marianna Brennand — Foto: divulgação/Paris Filmes

Vencedor do Prêmio Especial do Júri pela atuação da protagonista Jamilli Correa e do prêmio máximo mostra paralela Giornate Degli Autori no Festival de Veneza 2024, Manas traz a jovem atriz no papel de Marcielle, de 13 anos, que vive com a mãe, o pai e mais três irmãos nas margens do Rio Tajapuru, na Amazônia paraense. A força das águas desse braço do Rio Amazonas e a imensidão da floresta marcam a rotina da menina, que, na transição da infância para a adolescência, após sua primeira menstruação, passa a atrair a atenção indesejada e imprópria de seu pai (Rômulo Braga). A distribuição é da Paris Filmes.

O filme retrata os abusos na região são um segredo mal guardado e explora a dura realidade das "balseiras", meninas que atracam suas canoas em barcos que passam pela região com o pretexto de vender produtos diversos, mas que acabam sofrendo diversas violências sexuais nestes espaços.

Elenco e equipe de Manas apresentam o filme no Cine Odeon - CCLSR — Foto: João Vitor Figueira

"Cuidado e respeito pautaram a nossa jornada inteira", disse a cineasta Marianna Brennand ao apresentar seu longa-metragem em uma conversam o público durante o programa Première Brasil Debates. "Manas mostra que é possível a gente falar de uma realidade horrível com cuidado ético, delicadeza e respeito. Para mim, é uma lição para a vida, não só no cinema. A gente tem que encarar as questões difíceis com cuidado, empatia e generosidade", completou a diretora.


Manas, de Marianna Brennand — Foto: divulgação/Paris Filmes

Na mesma ocasião, Dira Paes, que vive a policial Aretha, falou que sua personagem é inspirada em um delegado em particular e na figura da Irmã Marie Henriqueta, ativista pelos direitos humanos que corajosamente enfrenta o tráfico de crianças na região, muitas vezes arriscando a própria vida. "[Ela] representa a presença do Estado e, onde há essa presença, há a possibilidade de reverter essa realidade", destacou, reafirmando ainda que a questão não se limita a um único território do país, do continente ou planeta: "É um problema endêmico do mundo".

Animale, de Emma Benestan — Foto: divulgação/Pandora Filmes
Animale, de Emma Benestan — Foto: divulgação/Pandora Filmes

Filme de encerramento da Semana da Crítica no Festival de Cannes 2024, Animale estreia com distribuição da Pandora FilmesAmbientado na região de vastas paisagens naturais de Camarga, no sul da França, a trama acompanha os bastidores da tradicional corrida de touros que movimenta a comunidade local pela perspectiva de Nejma, uma jovem de 22 anos que sonha em se tornar a campeã do torneio. Marcada pelo desafio perigoso que envolve o contato com os instintos selvagens das bestas, ela entra na competição e descobre que enfrentar as imposições sociais de um mundo regido por homens pode ser muito mais ameaçador e violento.

"Qual é a força de uma mulher? Como responder à tentação, neste feminismo de estúdio, de transformar as protagonistas na Mulher-Maravilha? Isso também nos limita", refletiu a cineasta Emma Benestan em entrevista para o crítico Bruno Carmelo, no site Meio Amargo. "No filme, os personagens dizem o tempo todo a Nejma: 'Seja forte! Você não disse que era forte?'. Queremos tanto ser fortes que não aceitamos a nossa fragilidade, nem percebemos as violências que sofremos. Para mim, este era o eixo do filme", completou a diretora.

Animale, de Emma Benestan — Foto: divulgação/Pandora Filmes

Animale, de Emma Benestan — Foto: divulgação/Pandora Filmes

Sobre a combinação de gêneros cinematográficos em seu projeto, a diretora disse que essa mescla é algo que ela costuma buscar em suas explorações cinematográficas, que fazem sentido dentro de suas predileções como realizadora, desde que não se perca de vista a "coluna vertebral do projeto", que são as personagens. "Nos filmes de terror, vemos apenas as mulheres gritando de medo. Eu queria que o medo mudasse de lado, e que as mulheres gritassem para expressar outro sentimento, como a raiva", completou Benestan na mesma entrevista.

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