Publicado em 09/10/2016

George dirige um carro velho e sujo, em uma estrada no interior da Argentina. Durante sua vida inteira ele fez este trajeto sempre no mês de janeiro, época de ir à casa de sua família na serra. Porém, não há mais a intensidade dos velhos tempos. Desta vez ele é pai, um homem recém divorciado, que junto com seu filho Valentino, de oito anos, vai aproveitar os últimos dias do local antes que o mesmo seja vendido.

Em um local sem luz elétrica e um escasso sinal de telefone celular, pai e filhos farão, pela última vez, a lista de tradições do local, escrita no verso de uma tampa de jogo de xadrez. Coisas como subir uma montanha para ver as estrelas, nadar em um rio, encontrar minhocas na terra para pescar, jogar truco, derrubar uma árvore e acender o fogo. Porém, o olhar da nova geração, vai propor novas regras a estes rituais.

Primeiro longa-metragem do diretor Darío Mascambroni, Primero enero foi vencedor do Prêmio de melhor filme argentino no BAFICI 2016 e agora participa da Mostra Latina do Festival do Rio de 2016. Na noite do dia 8 de outubro, ele apresentou o filme com a assistente de direção Florence Wehbe, em uma sessão de gala, e conversou com o público.

“O filme é uma história de pai e filho – que são pai e filho na vida real. São meu tio e priminho. Conhecendo ele, e tudo que tinha a oferecer em sua imaginação e verborragia, imaginei que poderia sair uma linda história. A casa que filmamos era da minha avó. Tudo em família”, explicou Darío. “A narrativa surgiu do meu interesse de falar sobre tradição, que vem de gerações anteriores”.

O diretor ainda contou que Valentino, o ator mirim, nunca havia estado antes da frente de uma câmera, que foi sua primeira experiência. Assim, a filmagem também se preocupou em não fazer muitas marcações, ter também uma pegada documental, com planos mais longos, para aproveitar o que a criança naturalmente iria trazer para a história.

Na vida real, seus pais, como os personagens do filme, realmente haviam passado por uma crise e quase se divorciaram, outra temática de destaque na trama, que em vários momentos enfatiza a ausência da mãe.

Outro ponto importante é a conversa constante de pai e filho sobre personagens da mitologia grega, como Tróia e a Caixa de Pandora. Segundo o diretor, seu tio é professor e realmente a temática faz parte das conversas cotidianas dele com seu filho. Na película, estas reflexões sobre os mitos criam um novo paralelo – da lista das tradições a serem seguidas (ou quebradas), com os doze trabalhos de Hércules.

Em constante interação com a água do rio, as árvores, a natureza, o som diferente de não estar em uma cidade, e com a distância da tecnologia, os personagens se focam na interação e na relação, que se renova através de antigas vivências.

O diretor Darío Mascambroni nasceu em Córdoba, Argentina. Em 2010 formou-se em cinema na escola La Metro. Foi diretor de fotografia em filmes como El espacio entre los dos (dirigido por Nadir Medina, 2012) e na série de TV Córdoba Casting. Em 2014, ganhou o prêmio Raymondo Gleyzer pelo projeto Mochila de Plomo, que será filmado ainda este ano.



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