Publicado em 24/05/2025

Kleber Mendonça Filho em Cannes — Foto: Miguel Medina-AFP/reprodução Instagram @festivaldecannesKleber Mendonça Filho em Cannes — Foto: Miguel Medina-AFP/reprodução Instagram @festivaldecannes

A presença brasileira no 78º Festival de Cannes se estendeu da seleção oficial aos bastidores do mercado audiovisual global. Em 2025, o Festival do Rio marcou presença na Marché du Film como um dos cinco festivais internacionais convidados a selecionar projetos para o programa Goes to Cannes. A iniciativa, realizada em parceria com o Ministério da Cultura, reforça a missão do Festival do Rio de elevar vozes promissoras e consagradas do cinema brasileiro. Este fato foi muito bem ilustrado com a conquista de Virtuosas, projeto selecionado pelo festival e pelo MinC, com direção de Cíntia Domit Bittar, que venceu o Goes to Cannes Award 2025.

Na seleção oficial do Festival de Cannes, o grande destaque brasileiro foi O Agente Secreto, longa-metragem que consolida o excelente momento do cinema nacional no cenário internacional, após o êxito de Ainda Estou Aqui no Oscar, no Globo de Ouro e no Festival de Veneza.


Kléber Mendonça Filho durante as filmagens de O Agente Secreto — Foto: Victor Jucá

Na cerimônia realizada neste sábado (24), no Grand Théâtre Lumière, foram anunciados os vencedores da Competição Oficial do Festival de Cannes. O júri deste ano foi presidido pela atriz Juliette Binoche. O cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho recebeu o prêmio de Melhor Direção (Le Prix de la Mise en Scène) por O Agente Secreto. Esta foi a primeira vez, desde 1969 — quando Glauber Rocha venceu com O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro — que um diretor brasileiro conquistou essa honraria.

O Agente Secreto teve sua première de gala no Festival de Cannes no dia 18 de maio. Após a sessão, foi ovacionado por quase quinze minutos. A repercussão na imprensa internacional foi positiva. "Obra-prima" e "monumental" foram alguns dos elogios ao longa-metragem.


Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho durante as filmagens de O Agente Secreto — Foto: Victor Jucá

"Meu país, o Brasil, é um país cheio de beleza e poesia", disse o cineasta em seu discurso de agradecimento. "Estou muito orgulhoso de estar aqui esta noite. Penso que Cannes é simplesmente a catedral do cinema neste planeta. Eu queria mandar um abraço para todo mundo vendo no Brasil, especialmente Recife, Pernambuco. Emilie Lesclaux minha parceria na vida, minha produtora. Martin e Tomás, isso aqui é para vocês'

Wagner Moura em O Agente Secreto — Foto: Cinemascopio/MK Production/One Two Films/Lemming
Wagner Moura em O Agente Secreto — Foto: Cinemascopio/MK Production/One Two Films/Lemming

Outro prêmio marcante para o país foi entregue a um dos nomes mais populares e celebrados de sua geração. Wagner Moura venceu o prêmio de Melhor Ator (Le Prix d’Interprétation Masculine) por sua interpretação como um especialista em tecnologia que retorna ao Recife durante a ditadura militar para reencontrar o filho, fugindo de São Paulo. Essa é a primeira vez que um ator brasileiro recebe esse reconhecimento na principal mostra competitiva do festival. 

Moura se junta a Fernanda Torres (vencedora do prêmio de Melhor Atriz em Cannes por Eu Sei Que Vou Te Amar em 1986) e Sandra Corveloni (vencedora do prêmio de Melhor Atriz em Cannes por Linha de Passe em 2008) no rol de nomes da atuação brasileira que já receberam o prêmio máximo de suas categorias na Croisette.

Imagem de divulgação de O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho — Foto: Cinemascopio/MK Production/One Two Films/Lemming
Imagem de divulgação de O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho — Foto: Cinemascopio/MK Production/One Two Films/Lemming

Antes disso, O Agente Secreto também havia vencido dois importantes prêmios paralelos, o Prêmio da Crítica, oferecido pela Federação Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESCI) e o Prix des Cinémas Art et Essai, atribuído pela associação francesa de exibidores independentes.

Neste sábado, antes da cerimônia oficial, Kleber Mendonça Filho falou sobre ter recebido o Prêmio da Crítica em entrevista ao podcast Plano Geral. "O prêmio da FIPRESCI me sugere o fechamento de um círculo. Porque eu trabalhei 13 anos como crítico e eu deixei a crítica quase como quem para de fumar e entrei no O Som ao Redor no outro dia", disse.

O cineasta ainda defendeu a importância das salas de cinema de formação e sua valorização como política pública: "Eu lembro que O Som Ao Redor teve um empurrão muito grande do Prêmio da FIPRESCI em Roterdã. Eu fico muito feliz que O Agente Secreto esteja nascendo agora e já tenha esse prêmio e tenha ganho o prêmio das salas de cinema independentes. Eu acho que a questão da sala de cinema de formação é uma questão importantíssima que precisa ser valorizada e que precisa virar política de governo no Brasil. A gente precisa incentivar novos olhares, filmes do mundo inteiro, em salas muito bem equipadas e com ingressos que sejam acessíveis, ingressos que sejam humanos, e não ingressos de mercado muito além do poder aquisitivo médio brasileiro", argumentou.


O Riso e a Faca, de Pedro Pinho — Foto: divulgação/Uma Pedra no Sapato

Outro reconhecimento importante veio da mostra Un Certain Regard, com o prêmio de Melhor Atriz para a atriz cabo-verdiana Cleo Diára por sua atuação em O Riso e a Faca, dirigido pelo português Pedro Pinho. O filme é uma coprodução internacional entre Portugal, Brasil, Romênia e França, com 31 profissionais brasileiros envolvidos, incluindo a produtora Tatiana Leite, o diretor de fotografia Ivo Lopes Araújo e o ator Jonathan Guilherme. Inspirado em canção homônima de Tom Zé, o filme celebra a força da colaboração lusófona no audiovisual contemporâneo.

"O Pedro [Pinho, diretor] sempre quis um personagem brasileiro, e o tema do filme é muito pertinente em relação ao Brasil. Um outro motivo muito importante é o fato de que o Pedro queria muito filmar com o fotógrafo Ivo Lopes Araújo, então isso nos ajudou a consolidar essa parceria", comentou Tatiana Leite em entrevista ao site da revista Rolling Stone, na qual também falou sobre os desafios e potências de realizar um filme em cooperação com profissionais de diferentes países.

"Algumas diferenças culturais podem trazer questões às vezes muito positivas e às vezes grandes desafios em coproduções internacionais", disse. "A maior parte do tempo fazíamos isso num ambiente muito democrático, todos os produtores se sentindo com voz de opinar, de discutir, de questionar. Isso também é o que considero quando uma coprodução tem sucesso: essa mistura, o que isso traz de extra para um filme".

Ouvi o Chamado: O Retorno do Manto Tupinambá, dirigido por Myrza Muniz, Robson Dias e Célia Tupinambá — Foto: Selvática Filmes, Búzios Films
Ouvi o Chamado: O Retorno do Manto Tupinambá, dirigido por Myrza Muniz, Robson Dias e Célia Tupinambá — Foto: Selvática Filmes, Búzios Films

Ainda na Marché du Film, o documentário brasileiro Ouvi o Chamado: O Retorno do Manto Tupinambá, dirigido por Myrza Muniz, Robson Dias e Célia Tupinambá, recebeu o Prêmio Rulli Putortì & Partners Law Firm no programa Docs-In-Progress. O projeto, exibido em fase de finalização no Cannes Docs, foi selecionado via edital da Secretaria do Audiovisual e se destacou entre 32 projetos internacionais. A premiação garante três sessões de consultoria jurídica especializada, fortalecendo a trajetória do filme em festivais e mercados internacionais.

A cineasta brasileira Marianna Brennand, que competiu na Première Brasil em 2024 com o drama Manas, em cartaz nos cinemas, foi homenageada domingo (18) com o Emerging Talent Award, concedido pelo programa Women In Motion, do Festival de Cannes, com apoio de 50 mil euros para o desenvolvimento de seu próximo longa. Ela se tornou a primeira cineasta brasileira a receber a honraria.

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