Publicado em 30/09/2013

Aos 67 anos, o cineasta norte-americano Paul Schrader aproveita o conforto que uma carreira de sucesso no cinema lhe concedeu. No entanto, suas inquietações continuam latentes. Diretor de filmes emblemáticos, como Marca da pantera, Gigolô americano e dos recentes Temporada de caça e O acompanhante, ele está no Rio para apresentar seu filme mais recente, The Canyons, um suspense de forte teor sexual, estrelado por Lindsay Lohan e pelo ator pornô James Deen. Ele é foco também de uma retrospectiva e receberá o troféu Redentor Life Achievement Award.

“Eu não via filmes quando era criança porque nossa igreja não aceitava”, conta ele, relembrando sua infância no seio de uma família de protestantes ortodoxos. “Mas também não conhecia ninguém que fosse ao cinema, então eu não me incomodava. Quando finalmente comecei a ver filmes, foi pelo cineclube da minha faculdade e eles exibiam os europeus dos anos 1960”. Entre os nomes que o mais impressionavam à época, o diretor lembra de Ingmar Bergman, Robert Bresson, Luis Buñuel e Jean-Luc Godard. “Um cineasta sempre se lembra de seu primeiro amor. Para a maioria, são filmes vistos na infância. No meu caso, foram os que eu vi na época da faculdade. Eram filmes sérios. Porque eu era um rapaz sério”, diz. A experiência ajudou a moldar sua relação pessoal com a sétima arte, que, por isso, sempre encarou com seriedade.

Os primeiros passos no universo que viria a ser seu habitat começaram como crítico. “Exerci essa carreira por um tempo. Depois cheguei a um ponto em que relatos não-ficcionais não me satisfaziam mais. Eu precisava contar histórias, me entregar à ficção”, conta. “Num primeiro momento, não achava que tinha o que precisava para me tornar um roteiristas ou cineasta. Mas depois comecei a fazer roteiros e o passo seguinte foi querer ter mais controle, ser mais completo”.

Questionado se algum de seus filmes lhe é especialmente caro, Schrader não consegue escolher apenas um. “Um diretor tem vários favoritos. Eu acho que Mishima é um filme único. Temporada de caça provavelmente é o mais bem realizado. Já O dono da noite é o que tem mais significado para mim”.

A animação aumenta quando o assunto é The Canyons, seu trabalho mais recente. “Brett [Easton Ellis, romancista e autor do roteiro] e eu íamos fazer um outro filme, mas perdemos o financiamento. Então eu disse para ele ‘sabe, com a tecnologia de hoje, podemos fazer nós mesmos. A gente consegue um pouco de dinheiro, coloca um pouco do nosso próprio bolso e não pede permissão a ninguém. Vamos fazer o filme que quisermos’”.

O elenco do longa é um de seus atrativos. Além de Lindsay Lohan e James Deen, o diretor Gus Van Sant também interpreta um papel importante. “Quando se faz um filme sem dinheiro, você precisa ter ou amigos que te ajudem – como foi o caso de Gus – ou pessoas dispostas a trabalhar por nada. Para James, foi a chance de fazer um filme sério, então ele topou fazer por US$ 100 ao dia. No caso de Lindsay, esse é o único tipo de filme que ela pode fazer no momento porque as companhias de seguro não aceitam pagar por ela. Mas a gente não tinha seguro. Era o nosso dinheiro!”. Ele conta ainda que seu próximo projeto, que já está escrito, terá Nicolas Cage no papel principal.

Paul Schrader irá apresentar a sessão de gala de The Canyons nessa terça-feira, dia 1º, às 19h15 no Odeon Petrobas, quando receberá a homenagem oferecida pelo Festival do Rio.

Confira aqui a programação da retrospectiva Paul Schrader, o Inconformista Americano.

Foto: Leandro Ferreira



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