Publicado em 29/09/2014

Obra, primeiro longa de Gregorio Graziosi, foi debatido nesta segunda-feira (29 de setembro) na Sede do Festival, o Armazém da Utopia, em mesa mediada pelo jornalista Mauro Trindade. O filme tem como protagonista o ator Irandhir Santos (O som ao redor, Tatuagem) no papel de um arquiteto que se depara com vestígios de corpos no terreno que herdou do avô, em que se dá a construção de seu mais recente projeto.

Destacando a atualidade do filme e a força da presença da cidade de São Paulo na narrativa, Trindade lembrou ainda que a escolha por uma fotografia em preto e branco agregou densidade dramática ao filme, e questionou a equipe com relação à opção. A esse respeito, o diretor revelou que a intenção era criar uma espécie de fusão entre os prédios e as pessoas, objetivo que o preto e branco ajudaria a alcançar. André Brandão, que assina a bela fotografia, completou, afirmando que São Paulo é uma cidade que não apresenta uma profusão de tons à primeira vista. “Nós percebemos que seríamos mais fiéis à nossa percepção de São Paulo em preto e branco do que em cores”, explicou, revelando ainda ter se inspirado nos filmes norte-americanos dos anos 1940.

Ainda nesta direção, o diretor de arte Mario Saladini sublinhou a importância da parceria entre arte e fotografia num filme sem o uso de cores, apontando ainda que a escolha pelo preto e branco ajudou a valorizar as linhas arquitetônicas, elemento extremamente vital na narrativa. Sobre as dificuldades mercadológicas decorrentes dessa escolha, a produtora Zita Carvalhosa comentou, em tom de brincadeira, e lembrando seu trabalho anterior, o longa Sudoeste, de Eduardo Nunes: “É muito difícil produzir um filme em PB. E eu consegui fazer dois seguidos”.

Inventariando suas referências, o realizador citou o cinema italiano como grande norte: “Talvez seja aquele que mais move a minha alma”, ponderou, citando cineastas como Fellini e Antonioni, e destacando na obra deste último a relação entre os personagens e a arquitetura. O diretor, no entanto, mostrou-se tímido com relação a críticos que o comparam com esses grandes mestres: “Esses elogios são todos exagerados e descabidos”, declarou.

O montador, Gabriel Vieira de Mello, falou sobre a decisão de construir um filme com planos mais longos, que Trindade definiu como uma narrativa de ritmo bem mais lento que o usual no vertiginoso cinema contemporâneo. Para Mello, que citou o trabalho da premiada montadora Thelma Schoonmaker, os desafios de se montar um filme dessa natureza são subestimados, já que um menor número de cortes implica que eles tenham uma precisão muito maior.

A equipe como um todo ressaltou a presença de São Paulo no longa. “É um filme que retrata São Paulo e, com o passar dos anos, ele vai ganhar mais e mais força por conta disso”, opinou Saladini.

Texto: Maria Caú

Fotos: Luiza Andrade




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