Publicado em 06/11/2018

Entre a fantasia e alguma melancolia, com um tempero de humor, “A Excêntrica Família de Gaspard” ganha a primeira de suas quatro sessões no Festival do Rio nesta quarta (7/11), às 16h50, no Estação NET Gávea 3. Na cidade a convite do Festival, o diretor do filme, o francês Antony Cordier, vai acompanhar a primeira exibição carioca de seu novo trabalho.

A semelhança do título em português com “A excêntrica família de Antonia”, produção holandesa que venceu o Oscar de língua estrangeira em 1996, se estende a outros aspectos. O longa de Cordier equilibra-se entre a fantasia e uma certa melancolia, temperado com bom humor. Na trama, Gaspard (Félix Moati) volta à casa da família para participar do casamento do pai. Acompanhado por uma falsa namorada (Laetitia Dosch), ele revive lembranças de sua infância e os “amigos” que deixou no zoológico construído por seu pai.

Cordier já dirigiu dois longas, “À Flor da Pele” (2005) e “Para Poucos” (2010). Com o primeiro, foi indicado ao César de melhor filme. A seguir, ele conta mais sobre sua nova produção.

Como surgiu a ideia de fazer “A Excêntrica família de Gaspard”?

A história do pai de Gaspar é inspirada na história real de um homem que nos anos 1950 criou um zoológico na França, que acabou se tornando o maior da Europa. Ele era um pouco maluco, viajava para a África e trazia os animais de lá por conta própria muitas vezes. Coisa que hoje não se faz mais, mas naquela época se fazia. E o conheci no zoológico dele quando eu era criança. Era um cara que tinha muitas anedotas para contar, como na vez em que ele dirigiu o seu carro por mais de 50 quilômetros com um gorila sentado ao lado. Os motoristas que vinham na direção contrária não entendiam nada. Então eu quis reviver um pouco essa história e também falar da família e das maluquices dele.

Como foi o processo de produção do filme?

A maior dificuldade foi ter um zoológico de verdade. E quando se começa a filmar os animais, aí começam os problemas. Sempre se fala que o mais difícil é filmar animais e crianças. Eles não se deixam abalar pelo poder. Eu não posso falar para um pinguim “Olha, eu sou o diretor do filme, assinei um contrato e você vai ter que se meter na água”. Se ele não quiser entrar a gente tem que achar uma outra solução ou ter muita paciência. E, como no cinema não se costuma ter tempo para isso, essa foi a maior dificuldade.

Você poderia falar um pouco sobre como é o processo de produção cinematográfica na França?

Na França há inúmeras formas de financiamento para o cinema. Existem mais de 30 fontes diferentes de financiamento e é preciso ir a cada uma delas para vender o filme. Existe o Centro Nacional de Cinema, que seria o equivalente a Ancine aqui no Brasil, as televisões, os parceiros locais, os organismos privados, entre outros. O mais difícil é propor a cada financiador projetos quando eles têm fontes de interesse diferentes. O produto, que é o filme, é o mesmo. O problema é lidar com essa diversidade de interesses. Porque cada um deles questiona as ideias do filme. Então, a gente tem que ser firme e afirmar que vai ter uma personagem do filme que acha que é uma ursa.

Como você avalia o impacto da internet e de fenômenos como o Netflix nos cinemas e salas tradicionais na França?

A consequência principal é que a bilheteria se concentra em poucos filmes. Os que padecem mais com essa concorrência são aqueles que a gente costuma chamar na França de “filmes do meio”. São filmes com características artísticas fortes, mas destinados a um público bem mais amplo. Eles têm mais dificuldades de existir frente a essa concorrência. E às vezes vai ser mais fácil chamar a atenção para um filme iraniano ou brasileiro do que para esse tipo de filme produzido por franceses.




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