Publicado em 29/09/2014

O segundo debate do Cine Encontro realizado no Centro Cultural Justiça Federal ontem (28) foi em torno do intrigante Castanha, primeiro longa-metragem do diretor Davi Pretto. A mesa foi mediada por Sérgio Mota, professor de Comunicação Social da PUC-Rio, e contou com a presença de grande parte da equipe.

O filme conta a história de João Carlos Castanha, ator que mora com a mãe, Celina. Trabalhando como transformista à noite em boates gays e atuando em peças e filmes, Castanha mostra sua personalidade atormentada por dilemas familiares. O Castanha ator e o personagem do filme se confundem a ponto de fazer o espectador se perguntar o que é real e o que é ficção.

Mota abriu o debate colocando como é interessante essa quebra da barreira entre ficção e realidade que a obra faz e as transformações que têm lugar nesse processo. Pretto ressaltou a importância de sua equipe, formada há cinco anos, desde a realização do curta Quarto de espera, em 2009. Ele contou que foi apresentado a Castanha por um professor da PUC-RS, quando ainda estava na faculdade, e a partir daí desenvolveu um fascínio pelo ator. Segundo ele, Castanha possui a habilidade de se reinventar todos os dias, assumindo diferentes papéis.

Castanha reforçou a colocação de Pretto ao revelar que não teve problema com nenhuma das cenas, mesmo as que envolveram nudez ou encenações de sexo. “Não sei nadar, mas se tiver que me atirar no mar, me atiro”, brincou. Pretto contou que, ao escrever o roteiro, integrou também anotações do ator.

A principal questão levantada durante a conversa foi a dificuldade de classificar o filme, já que ele apresenta características tanto de documentário como de ficção. É essa impossibilidade que o torna tão intrigante e, de certa forma, agoniante, já que o espectador se questiona a todo momento quais dos fatos aconteceram e quais foram encenados.

Quando questionado sobre as referências presentes na obra, o diretor disse que sua inspiração principal foi o cinema americano dos anos 1970. Pretto colocou ainda que, como o filme dialogava com a realidade, era difícil se prender a essas alusões. “No meio do caminho, não se pensa nas referências. É um processo instintivo”, afirmou.

A plateia demonstrou grande interesse no processo das filmagens e em como foi possível conciliar casualidades do cotidiano com o roteiro. O cineasta explicou que em todos os dias de gravação havia um cronograma, mas afirmou que os acontecimentos afetavam sim o que havia sido planejado. Como o processo foi demorado, houve espaço para espontaneidades e imprevistos do dia a dia de Castanha e sua mãe, e muitos deles foram utilizados no filme.

Todos os acasos, somados a belas atuações e a um roteiro bem estruturado, fazem de Castanha um filme marcante. Para concluir o debate, Mota citou Clarice Lispector e conseguiu justificar a obra pela sua forma: “Perder-se também é caminho”.

Texto: Julia Asenjo

Foto: Giula Accorsi




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