Publicado em 11/10/2017

Texto de Francisco Noronha

Numa das primeiras cenas de O Nome da Morte, de Henrique Goldman (Jean Charles, 2009), após o protagonista ter concretizado um homicídio, o tio tenta reconfortá-lo: “Tu és o meu sobrinho, eu sou o teu padrinho”. Esta alusão nada subtil à personagem de Marlon Brando em The Godfather condensa a ideia central sobre o filme, a saber, uma lição de como não fazer um filme que, colando tantas referências e lugares-comuns, redunda num pastiche anódino, circunstância particularmente negativa quando se baseia numa personagem real, um assassino a soldo responsável por quase 500 vítimas.

Colocando de outra forma, o filme diz tudo aquilo que os bons filmes que toma como referência deixam nas entrelinhas, no plano literal (caso do diálogo acima referido ou da referência ao “Código do Pistoleiro”, réplica sem glória do Bushido filmado por Kurosawa, Melville e Jarmusch), e na direção de actores. Marco Pigossi, o protagonista, está sempre em overacting, ofegando, tremendo, enfim, evidenciando um estado geral de ansiedade que transforma uma personagem complexa numa caricatura grosseira.

Júlio Santana, o assassino, é apresentado como um homem entre a virtude e o pecado, que vai do interior rural para a cidade em busca de uma vida melhor, sempre com um dedo no gatilho, mas um coração genuinamente bom. Neste conto de perda da inocência, a complexidade desta personagem é a única que escapa ao absoluto esquematismo de Goldman. Apesar de ter a realidade como material base, o realizador desenha um Brasil desigual e dividido entre “bons” e “maus”, entre pobres mas humildes (os do interior) e gananciosos e corruptos (os da grande urbe). 

O pecado, a redenção, os pesadelos: todos os pontos da checklist de filme de género são cumpridos sem inventividade, ao que não ajuda o desarmonioso tratamento de cor e a banda-sonora de Brian Eno, excessivamente presente e previsível no sublinhar de cada momento dramatúrgico.

“Você tem boa mira”, diz o tio ao sobrinho; apetece dizer que mira ou olhar original é coisa que não se encontra na câmara de Goldman.




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