Publicado em 03/10/2014

O documentário De gravata e unha vermelha foi tema do Cine Encontro na quinta-feira, dia 2 de outubro, no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF). A mediação foi feita por Sergio Mota, professor de Comunicação Social da PUC-Rio, e contou com a presença da diretora, Miriam Chnaiderman, e de Bayard Tonelli, um dos protagonistas do filme.

Através de diferentes personagens, com histórias marcantes, o documentário questiona o binarismo de gênero. O filme conta com variados recursos audiovisuais, como trechos do filme Glen ou Glenda, de Ed Wood, músicas de Ney Matogrosso e charges de Laerte. Além disso, personalidades como Ney Matogrosso, Laerte, Rogéria, Dudu Bertholini, Bayard e muitos outros contam suas trajetórias, em entrevistas, na busca de se encontrarem e de serem aceitos.

Mota abriu o debate elogiando a densidade do material utilizado, além dos sensíveis depoimentos biográficos, que ajudaram a abordar o tema da sexualidade de forma ampla. O mediador colocou também o interessante uso de uma espécie de “câmera epitelial”, que acompanha as formas do corpo, nas entrevistas.

Chnaiderman explicou que utilizou duas câmeras, uma para filmar os planos gerais e outra que produzisse o efeito mencionado por Mota e que de alguma forma conseguisse “ler a alma” dos personagens. A diretora colocou também a importância de Bertholini, que a ajudou na escolha dos entrevistados.

No documentário, Thais Souza, uma das personagens, diz: “Tenho mil sexos dentro de mim que o Estado diz que é dono”. A habilidade que Chnaiderman apresentou para acolher esses sexos e representá-los foi ressaltada por Tonelli, assim como a leveza com que o filme aborda um tema polêmico, com depoimentos de conteúdo forte. Sobre a questão da sexualidade, foi enfático: “A sexualidade deve deixar de ser um estigma que exclui pessoas da sociedade”.

A plateia se mostrou muito satisfeita com o longa e principalmente com a forma com que o tema foi abordado, utilizando às vezes o humor, sem diluir a seriedade da questão. Chnaiderman disse que nunca quis que seu filme fosse dramático, mas que era impossível fugir das frustrações que as escolhas dos personagens traziam. Além disso, quando questionada sobre os efeitos de som e imagem utilizados, a diretora respondeu que todos foram pensados para acompanhar a temática e quebrar paradigmas.

Chnaiderman contou que o filme entrará em circuito em novembro deste ano e que tem o projeto e o material para fazer dele uma série.

O documentário se encerra com a canção “Preciso me encontrar”, de Cartola, interpretada por Ney Matogrosso. De forma não menos poética, Mota fechou o debate com palavras de Mario de Sá: “Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio”.

Texto: Julia Asenjo

Fotos: Giulia Accorsi




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