Publicado em 04/10/2014

O último sábado do Cine Encontro na Sede do Festival do Rio começou com mesa em torno do documentário Favela gay, de Rodrigo Felha. O longa retrata o dia a dia dos membros da comunidade LGBT que vivem no espaço das favelas cariocas.

Antes de dar início ao debate, o jornalista Luiz Carlos Merten lamentou profundamente a morte do ator e diretor Hugo Carvana, ocorrida na manhã deste sábado (04), para só então questionar o diretor com relação à escolha dos personagens que compõem a narrativa, cuja força ressaltou. O realizador sublinhou a importância do trabalho de pesquisa de Ana Murguel e Marcos Moura na busca dos entrevistados do filme. Revelou ainda que, como morador da Cidade de Deus, via a necessidade de registrar o cotidiano dessas regiões menos favorecidas do Rio Janeiro. Felha informou ainda que boa parte da equipe técnica do filme reside nessas localidades, e contou um pouco sobre o desafio de selecionar os personagens do documentário: “Todas as histórias me encantavam. Se não fosse o Cadu, o filme teria vinte entrevistados”, brincou, se referindo ao produtor Carlos Eduardo Valinoti, também presente à mesa.

Rafaella Lira Soares e Carlinhos do Salgueiro, entrevistados no filme, falaram um pouco sobre o cotidiano da comunidade LGBT no âmbito das favelas, abordando as dificuldades da aceitação social ou familiar. Carlinhos, que trabalha como coreógrafo, revelou que inicialmente teve receio de fazer o filme por conta do preconceito. Confessou ainda que foi a arte da dança que o ajudou a lidar com um cotidiano bastante opressor: “Minha viagem na arte me ajudou a esquecer o sofrimento e os preconceitos que eu vivi”, declarou. Já Soares disse acreditar que o longa de Felha ajudará a quebrar estigmas e se mostrou otimista com relação ao futuro. “A minha vida foi feita de esperança. Eu acreditei no impossível e o impossível está acontecendo”, disse a estudante universitária, que falou ainda das dificuldades de inserção no mercado de trabalho enfrentadas pelos transexuais. 

Público e diretor destacaram a forma respeitosa com que as entrevistas foram conduzidas. Felha e Valinoti elogiaram o trabalho do montador, Quito Ribeiro, ao lidar com o extenso material produzido durante as filmagens. O produtor expôs que a opção por uma edição em blocos, em oposição ao modelo de entrevistas intercaladas, ressaltou a força de cada história individual apresentada. Valinoti lamentou ainda que algumas das pessoas selecionadas para participar tenham declinado o convite por medo de represálias.

Ao fim, a equipe agradeceu a oportunidade proporcionada pelo Cine Encontro de apresentar e discutir o longa-metragem, que pretende ampliar a representatividade dos membros da comunidade LGBT, ainda marginalizados na sociedade brasileira, e promover um espaço de conscientização, demolindo preconceitos. 

Texto: Maria Caú

Fotos: Giulia Accorsi



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