Publicado em 28/09/2014

Cinema pode ser local de distração ou fuga da realidade. Mas pode ser também um espaço para debates e reflexão de novos caminhos para a vida real. Para abarcar esta segunda modalidade, o Festival do Rio reafirma sua parceria com a Anistia Internacional, reunindo uma seleção especial de filmes que promovam discussões não apenas de linguagem ou estética cinematográfica, mas também dos direitos e deveres básicos de todos nós.  Este ano, a seleção Cinema e Direitos Humanos, sucesso de público em 2013, traz 18 filmes e três sessões especiais seguidas de debate com diretores.

A curadoria é vasta e vai desde temas populares como os direitos LGBT, abordado no longa A jornada fantástica de George Takei, até questões desconhecidas de muitos, como a realidade dos piratas somalianos relevada em Pescando sem redes, vencedor do prêmio de melhor direção no Sundance Film Festival 2014.

Para se aprofundar ainda mais nas questões promovidas por seus filmes, os realizadores dos longas ​Câmera escura: os fotógrafos negros e a emergência de uma raça​, ​​​​Petróleo e água​ e ​​​​​Olhos de ladrão​​ estão no Rio para debater com o público logo após suas sessões.

Confira os filmes com o selo Cinema e Direitos Humanos:

​​​​​​​Água prateada, um autorretrato da Síria

​​É comum afirmar que a Síria é a terra dos cineastas assassinados, uma vez que qualquer pessoa com uma câmera ou celular torna-se um alvo imediato para atiradores. Exilado em Paris desde 2011, o diretor Ossama Mohammed faz um apanhado de milhares de vídeos online que retratam as atrocidades diárias acontecidas em seu país, registrando os horrores da guerra civil através de imagens chocantes. Mohammed também conta com material fornecido por Wiam Simav Bedirxan, uma jovem curda cujas filmagens durante o Cerco de Homs dialogam com o material do diretor. Exibido no Festival de Cannes 2014.​​​


​​​Big Men – Homens do petróleo​

​​​Após a recente descoberta de enormes depósitos de petróleo ao largo da costa de Gana, região desconhecida pelas principais petrolíferas do mundo, a pequena empresa texana Kosmos Energy parece ter tirado a sorte grande. Mas tudo muda quando os novas autoridades locais começam a pensar sobre como obter uma parte dos lucros. Traçando um paralelo com o histórico da exploração do ouro negro na Nigéria, o documentário revela como o comércio de petróleo opera em países politicamente instáveis e corruptos, e como as petrolíferas se aproveitam desta instabilidade. Locarno e Tribeca 2013.


​​Câmera escura: os fotógrafos negros e a emergência de uma raça​

​​Inspirado pelo livro Reflections in Black, de Deborah Willis, o diretor Thomas Allen Harris investiga como o legado de fotógrafos afro-americanos tem desempenhado um papel importante na formação da identidade e emergência social dos negros no território americano, da escravidão à atualidade. O documentário apresenta trabalhos de fotógrafos como Hank Willis Thomas, Deborah Willis e Glenn Ligon, artistas que desafiam os arquétipos da representação da cultura negra americana, demonstrando por meio de sua obra os poderes redentores da arte. Exibido no Sundance Film Festival 2014.​


Caminhando sob a água

​​Alexan é o último mergulhador de profundidade na ilha Mabul, a oeste da grande ilha do Bornéu, na Malásia. Ele ensina ao seu sobrinho Sari, de 10 anos, tudo o que sabe, das perigosas técnicas de pesca à sabedoria sobre o mundo subaquático. Enquanto Alexan se recusa a aceitar que o mundo de seus ancestrais pertence a um outro tempo, Sari se divide entre o desejo de se tornar um pescador como o tio e o novo mundo que se revela com a presença de um resort nas proximidades. As pressões urgentes e os novos problemas locais em um híbrido de fantasia, ficção e realidade. ​


Colocando a vida em jogo​​​

​​Após a anulação da vitória de seu pai, M.K.O. Abiola, nas eleições presidenciais e do assassinato de sua mãe por agentes da ditadura militar, a ativista Hafsat Abiola enfrenta o desafio de combater a corrupção governamental em prol de uma democracia capaz de atender ao segmento mais marginalizado da população nigeriana: as mulheres. Um retrato da evolução do movimento pró-democracia na Nigéria e os esforços entre os grupos progressitas do país em aumentar a participação das mulheres em cargos de liderança. ​​


Contos iranianos​​​​​

​Sete histórias retratam a realidade iraniana contemporânea, passando por temas como falta de dinheiro, uso de drogas, prostituição e gravidez indesejada. Todos os personagens têm uma coisa em comum: estão apaixonados. O filme é uma grande história de amor, entre mães e filhos, maridos e esposas, homens e mulheres, cuja paixão lhes dá forças para superar as dificuldades, sejam sociais ou emocionais. Com suaves mudanças de estilo de um conto a outro, o filme conta com complexas personagens femininas. Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza 2014. ​


A jornada fantástica de George Takei​​

​Da infância em um campo de concentração norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial a piloto da nave intergaláctica Enterprise, celebridade da internet e ativista, o ator George Takei – o comandante Sulu da série clássica Star Trek – viveu uma jornada cheia de surpresas. Acompanhando Takei e seu marido Brad em sua luta diária para defender os direitos dos homossexuais enquanto preparam um musical baseado na experiência de infância do ator, o documentário mostra a vida pública e os momentos íntimos desse casal divertido e adorável. Seleção oficial do Sundance Film Festival 2014.​


​​Nós, o gigante acordado​

​Cidadãos comuns enfrentam as mesmas questões morais que definiram líderes revolucionários ao lon­go dos tempos, desde Jefferson até Che Guevara e Nelson Mandela. O filme apresenta as escolhas de seis figuras extraordinárias diante do dilema universal que se impõem durante as lutas por justiça e liberdade: pegar em armas e lutar ou defender a mudança através da paz e da não violência? En­fren­tan­do a realidade de um regime brutal, cada um deles fará a dolorosa escolha que o definirá. Exibido no Sundance Film Festival 2014.​


​​​​​​​​​​Olhos de ladrão​​

​​​​No auge das revoltas civis palestinas de 2002, Tareq, um homem misterioso, sofre ferimentos. Cuidado por freiras locais, que o ajudam a escapar, ele logo é preso por soldados israelenses. Dez anos depois, ele sai da prisão e retorna à sua cidade, um lugar transformado drasticamente, para procurar sua filha Nur. Quando segredos são revelados, vemos a natureza sufocante da sociedade palestina contemporânea e o passado de Tareq começa a vir à tona. A ideia de correção moral é substituída por escolhas individuais questionáveis,  sem chegar a respostas fáceis. Inspirado em uma história real. ​


Pescando sem redes​

​Na Somália, Abdi, um jovem pai de família, se envolve com pirataria para sustentar sua família. Enquanto sua esposa e filho esperam por ele no Iêmen, Abdi e seus companheiros piratas navegam em alto-mar para capturar um petroleiro francês e exigir um resgate substancial. Durante a longa e tediosa espera pelo dinheiro, Abdi inicia uma amizade temporária com um dos reféns, enquanto alguns dos piratas começam a recorrer à violência. Filmado no leste da África com não atores somalianos. Prêmio de melhor diretor de ficção no Sundance Film Festival 2014.​


Petróleo e água​

​​​​Hugo e David, nascidos em extremidades opostas do comércio de petróleo, cresceram cada qual buscando soluções para a poluição da Amazônia equatoriana causada pela indústria petroquímica, que põe em risco a sobrevivência da tribo Cofan, da qual Hugo faz parte. Ele é enviado ainda criança a Seattle pelos pais a fim de ser educado “como branco”, para futuramente ser líder da tribo. David se apaixona pela região ainda criança, se forma em direito e cria uma companhia para promover o comércio justo de petróleo. Juntos procuram descobrir soluções viáveis para proteger o ambiente e as pessoas.


A primeira baixa

​Motivados pelo ódio pelo ditador Muammar Gaddafi e pela vontade de fazer parte da História, Hamid e Tarek abandonam suas vidas tranquilas no Canadá para participar de uma guerra em sua terra natal, a Líbia. Durante o conflito, seus caminhos se tornam distintos. Com uma câmera na mão, Hamid é convidado a filmar as linhas de frente das forças rebeldes e se integra facilmente aos jovens no campo de batalha. Para Tarek, o caminho é mais difícil. Inseguro, ele ignora todos os avisos e insiste em participar da linha de frente da batalha, decisão que tem consequências trágicas. Tribeca 2014. ​


Procurando Fela Kuti​​​​

​Fela Kuti, com sua roupa toda amarela, se dirige ao público do lendário show na Alemanha dos anos 1970: “99% das informações que vocês têm a respeito da África estão erradas”. Assim começa este documentário sobre este grande artista nigeriano, criador da revolução cultural do afrobeat, cuja apropriação da cultura pop negra norte-americana deflagrou uma arte atualíssima que vai além da música, da dança, da performance e da política. O filme reúne depoimentos de colaboradores e descendentes de Fela, além de imagens de arquivo de shows. Exibido no Sundance Film Festival 2014.​


​​​​​​Revolução ao contrário​

​O antropólogo David Graeber nos guia por esta profunda análise das crises e revoltas atuais do mundo. Tendo como ponto de partida o incansável Occupy Wall Street, em Nova York, o documentário se utiliza da reflexão de Graeber e outros especialistas para traçar a situação geral dos EUA de hoje e de controversos aspectos da sociedade, como trabalho, dívidas e privacidade. Por protestos no Egito, na Itália, na Guiné, na Espanha e nos EUA, somos levados a refletir sobre a história da dívida, dos motins e, sobretudo, do sistema de controle financeiro. Primeiro episódio da trilogia homônima. ​


​​​​​​​Suspiros das cidades​

​​Ao longo de dez anos – entre 2002 e 2012 –, o cineasta iraquiano Kasim Abid filmou, das janelas das casas onde morou, as ruas de três cidades diferentes: Arbil, no Curdistão, noroste do país; Ramallah, na Palestina; e Bagdá, a capital do Iraque. Suas imagens, acompanhadas de som direto, sem diálogos ou narração, revelam um balé de homens e máquinas e a luta diária do espírito humano, deixando transparecer a fé do cineasta na coragem e na capacidade de resistência de seu povo. ​


Um verão de liberdade​

​”Rache o Mississippi e você terá rachado o Sul.” Essa foi a estratégia usada por mais de 700 estudantes universitários que cruzaram o estado segregacionista em 1964 para registrar eleitores negros. Através de entrevistas e imagens históricas, o documentário revisita o conturbado verão de 1964 no estado, um período de ativistas pelos direitos civis. O filme destaca a atuação de Robert Moses em sua campanha, que trouxe milhares de voluntários ao estado para participarem da Convenção Nacional Democrata. Exibido no Sundance Film Festival 2014.​


Viemos em paz

​​Em uma viagem pela África, o diretor Hubert Sauper registra o momento político do maior país do continente, o  Sudão, revelando como o território está sendo dividido pelo choque do neocolonialismo. Sob o interesse de potências externas, o país vive novos episódios de conflitos sangrentos em nome de sua terra e recursos. Sob esse cenário, transitam trabalhadores da indústria do petróleo, as forças de paz da ONU, senhores da guerra sudaneses e missionários americanos, protagonistas políticos do país hoje. Vencedor do Peace Film Prize durante o Festival de Berlim 2014.


Vietnã: batendo em retirada​

​Nos últimos dias da Guerra do Vietnã, os EUA têm apenas uma equipe mínima de diplomatas e agentes militares ainda no país. Com a inevitável vitória comunista, os americanos precisam lidar com a possível prisão e até mesmo execução de muitos aliados e famílias sul-vietnamitas enquanto uma evacuação oficial demora mais que o necessário, graças a um exagerado otimismo do embaixador americano. Lutando contra o tempo e sob cerco inimigo, membros do exército americano começam a realizar operações não autorizadas  em um esforço desesperado para salvar vidas sul-vietnamitas. Sundance 2014.



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Edição 2023