Publicado em 09/10/2016

Por Cesar Castanha (Talent Press Rio)

Em Amor profundo, de Terence Davies (2011), o corpo de Rachel Weisz deitado no chão à espera da morte abre caminho para uma série de observações sobre a Inglaterra e sobre as interações familiares e íntimas que de alguma maneira constroem a História do país e de seu povo. Assim, a história privada de uma mulher que não ama seu marido, mas outro homem, está amarrada ao contexto da Segunda Guerra Mundial. O pessoal e o social precisariam, então, se reconhecer um ao outro para poderem superar certa melancolia individual e coletiva.

A canção do pôr-do-sol, obra seguinte do diretor, em exibição na mostra Panorama do Festival do Rio, parece querer chegar ao mesmo ponto. Adaptação do livro do escocês Lewis Grassic Gibbon, o filme apresenta a história de Chris Guthrie (Agyness Deyn), a filha de um camponês que herda a terra do pai cruel (Peter Mullan) e experimenta um período de independência do patriarcado antes de se casar, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, e ver seu marido (Kevin Guthrie) ser transformado pelo conflito com a Alemanha. É também, como a narração em off repete insistentemente, uma história sobre a terra e como ela sobrevive a todos nós.

Este filme, no entanto,tem mais dificuldade em encontrar a mesma delicadeza na abordagem do tema e dos personagens que o anterior. Na verdade, ele parece tão envolvido em encontrar essa delicadeza, uma cena após a outra, que resulta num excesso de solenidade, como uma assinatura estética mal-resolvida. O que temos, então, é uma tentativa frustrada de sutilidade que se revela, por exemplo, nas atuações naturalistas e no tom realista que o filme, de forma geral, coloca.

A narração em off, que pode terminar sendo o pior aspecto do filme, revela também algo de sua aproximação mal-sucedida com a literatura. O que é uma pena. Se Amor profundo foi acertadamente comparado a Desencanto, de David Lean (1944), A canção do por do sol está longe da habilidade de Lean de fazer dialogar cinema e literatura, como o mestre britânico faz com perfeição em Oliver Twist (1948) e Grandes esperanças (1946).





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