Publicado em 10/10/2015

A diretora francesa Catherine Corsini e a produtora Elizabeth Perez estão no Festival do Rio para apresentar ao público carioca o seu mais novo filme A bela estação. Ambientado no início dos anos 1970, a produção conta a história de amor entre uma jovem camponesa e uma garota de Paris, e aborda os conflitos gerados a partir dessa diferença. O filme é estrelado pela atriz Cécile de France.

Aproveitamos a passagem de Catherine e Elizabeth pelo Pavilhão do Festival para conversar com elas sobre A Bela Estação.

O filme se passa nos anos 1970, mas existem elementos atuais no filme, como no figurino e na trilha sonora, por exemplo. Por que essa mistura de épocas?

Catherine - Acho que o figurino e o registro visual de época do filme, como os antigos equipamentos de trabalho no campo, não são tão importantes quanto a atitude ou o jeito de ser dos personagens. Na cena em que as personagens Carole e Delphine fazem amor no campo usei uma música dos tempos atuais - da banda The Rapture (“In the Grace of Your Love”) - para mostrar a modernidade no campo através da urbana Carole. A trilha sonora em geral é da época em que o filme se passa. Mas com essa música do The Rapture especificamente tentei quebrar um pouco isso. 

A história das personagens Carole e Delphine tem uma leveza, apesar dos momentos de tensão típicos de uma trama.  

Catherine - Sim. Tentei fazer a mistura de uma problemática bem forte com uma atmosfera mais leve, iluminada e marcante para o espectador. Eu não quis fazer algo sombrio, fechado, mas momentos de paisagens com muito sol e luz.

Como o filme aborda essa questão, como vocês veem avanços no combate à homofobia na França tanto no cotidiano quanto no mundo do cinema e da arte?

Elizabeth – Há um tempo as pessoas falavam que não havia mais homofobia na França, pois todos podiam se casar. Mas recentemente passou a existir um movimento de pessoas contra o casamento entre homossexuais. Foi algo marcante por ter surgido de maneira repentina. Ninguém esperava por isso.

Catherine - Acho que no mundo da arte há uma proeminência maior de homossexuais do mundo masculino. Há mais verbas para eles no segmento de arte e cultura. Foi fruto de muita luta conseguir esse nível maior de produção cultural. Mas para as mulheres não há isso. Essa questão anda esquecida, deixada de lado. E é algo que precisa ser mudado.

E como anda a política de fomento ao cinema na França?  

Elizabeth - A França já foi um modelo do cinema de autor e de filmes de arte. Mas hoje em dia está cada  vez mais difícil conseguir financiamento para esse setor. E acho que se na França a situação não está boa, imagino como deve ser em Portugal, por exemplo. Há um grande problema lá em relação a isso. E enquanto há menos dinheiro disponível para os filmes de autor, há mais financiamento para os filmes comerciais. Não está fácil para quem faz filmes de arte.

Catherine - Mas hoje existe um novo público, com novos interesses. Existem pessoas que estão fazendo filmes para tablets, por exemplo. São jovens que fazem um cinema voltado para esse perfil.

Elizabeth - Mas a cada vez que vamos para um festival, ficamos empolgadas porque percebemos que o cinema ainda tem público. Mas acredito que em torno de 10 anos tudo vai estar totalmente mudado.

Por Fernando Flack e Gill Harris



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