Publicado em 08/10/2014

No último debate do Cine Encontro 2014, ontem, dia 7 de outubro, no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), foram debatidos dois filmes: (O vento lá fora) e Para sempre teu Caio F. A união das suas obras em apenas uma discussão se justifica na semelhança entre os protagonistas dos documentários, definidos pelo mediador Sergio Mota como “homens do século passado com ideias de homens do século XXI”. Fernando Pessoa e Caio Fernando Abreu podem ter muito em comum, além da paixão pela literatura.

O bate-papo começou com Candé Salles, diretor de Para sempre teu Caio F. Ele contou que a ideia do longa-metragem foi da roteirista Paula Dip, que era amiga de Caio Fernando Abreu e já havia escrito o livro homônimo, baseado nas cartas enviadas a ela pelo escritor. Salles explicou que este é seu primeiro filme como diretor e revelou o quanto foi desafiador fazer uma obra cujo desfecho o público já conhece de antemão.

A plateia se mostrou surpresa com a semelhança entre Caio e Glauco Caruso, o ator que interpreta o escritor. A equipe parabenizou o ator, que se interessou por cada detalhe dos trejeitos de Caio e topou o desafio de emagrecer e raspar o cabelo. Curiosamente, Caruso estava na plateia e as pessoas não o notaram, porque, como ponderou Paula Dip, “ele não é nada parecido com Caio, apenas se transformou para o filme”.

A roteirista se emocionou ao dizer que, durante toda a produção, evocava Caio. Ela disse sentir que ele estava ali de alguma forma, o que era mágico.

O diretor não considera ter feito um documentário chapa branca. Ele sublinhou o fato de que, em nenhum momento, a realidade foi escondida. Desde o começo o final triste estava bem resolvido, afinal, é a verdade. “A morte tem que ser dita, é inevitável”, colocou. Ao mesmo tempo, o humor de Caio Fernando Abreu foi incorporado no roteiro e ajudou a amenizar o peso da trama. Dip lembra como o amigo era sempre bem-humorado e solidário. “A coragem de Caio em viver nos deu coragem para fazer o filme”, declarou.

A amiga do escritor contou também que a promessa entre eles era que quem morresse primeiro deveria ser homenageado pelo outro. “Caio já dizia que seria mais famoso depois de morto”, lembrou ela.

Iniciando a discussão sobre o filme (O vento lá fora), o diretor Marcio Debellian contou que o projeto foi criado por Maria Bethânia. A cantora havia feito uma leitura com a professora Cleonice Berardinelli das poesias de Fernando Pessoa, e teve vontade de registrar o processo. Assim, elas deram liberdade para o diretor fazer o que quisesse. A única exigência de Bêthania era manter a dinâmica professora-aluna estabelecida entre elas.

O diretor pontuou a individualidade de ambas na obra. Maria Bethânia é cantora, vive no palco e, por isso, sempre faz tudo de forma bastante grandiosa. Cleonice Berardinelli, por sua vez, é professora, viveu na sala de aula e, dessa forma, movimenta-se de forma mais contida.

Debellian confessou que a química entre as duas já estava pronta: ele só precisava captá-la de forma discreta, porém autoral. Ele queria fazer com que a câmera desaparecesse para manter a naturalidade. Para o cineasta, o preto e branco da fotografia faz referência à música clássica e, ao mesmo tempo, ao cinema mudo.

O mediador observou que os filmes mostram personalidades que, mesmo se desconhecidas pelo espectador, fazem com que ele assista, interaja e se emocione. Mota, no entanto, apressou-se em corrigir: “Acho impossível que alguém não conheça esses dois gênios”, concluiu.

Texto: Juliana Rosa e Julia Asenjo

Foto: Juliana Rosa




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