Publicado em 04/10/2013

O documentarista canadense Jason O’Hara já morou em Recife e Belo Horizonte, fala um português quase perfeito e está preparando seu segundo filme no Brasil. No primeiro, Ritmos da resistência, que será exibido no Festival do Rio nos dia 4, 5, 8 e 9, Jason faz uma reflexão sobre a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas comunidades cariocas. Em seu novo projeto, no qual já trabalha há três anos, vai tratar dos despejos vinculados à Copa e às Olimpíadas. Apesar de se declarar um apaixonado pelo Brasil, Jason assume que não são exatamente as questões do país que o motivam. “Meu interesse é pela justiça, que é um assunto universal. O fato de os dois projetos serem sobre o Brasil é só uma coincidência”, explica ele, em conversa com o site do Festival do Rio. O diretor estará presente às sessões dos dias 4 (14h no Oi Futuro Ipanema), 5 (19h15 no CCJF) e 9 (19h40 no Estação Vivo Gávea 1)

Como surgiu a ideia de realizar Ritmos da resistência?

Tenho amigos brasileiros muito envolvidos com movimentos sociais. Eles me levaram a algumas comunidades com UPPs e me apresentaram a personagens que não tiveram boas experiências com as pacificações. Quando ouvi as histórias pensei em fazer um filme que mostra o que não vemos na televisão. Cathola, um sambista bem conhecido que escreve as letras de samba da escola “Alegria da Zona Sul” levou um tiro da PM arbitrariamente depois que a UPP chegou à comunidade dele, o Cantagalo. Ele e os outros personagens do filme nunca tiveram nenhum envolvimento com o crime. São todos artistas que acabaram baleados ou presos sem motivo.

Você filmou Ritmos da Resistência em dezembro de 2012 e fevereiro de 2013, antes do desaparecimento do auxiliar de pedreiro Amarildo chamar a atenção da opinião publica para a conduta das UPPs. Como você recebeu esse despertar da população com seus cartazes de “Cadê o Amarildo?”

Amarildo não foi o primeiro. São muitas as pessoas desaparecidas, antes e depois das UPPs.  Mas a mídia não fala disso e a maioria é esquecida. Amarildo tornou-se um símbolo de todos os outros. Foi muito bom ver o povo brasileiro ir às ruas, se não fosse isso o Estado jamais faria nada. Estou impressionado com esse movimento que surgiu e espero que a justiça chegue para o Cathola e outros que sofreram abusos. Que bom que a opinião pública está mudando.

Como está seu projeto sobre os despejos?

É outra história que eu acredito que deve ser contada. Existem varias comunidades ameaçadas em função dos grandes eventos que o Rio vai sediar. Vários já foram despejados. São muitas pessoas lutando para permanecer no lugar onde nasceram e cresceram. Não é justo. Pretendo finalizá-lo no ano que vem e, quem sabe, exibi-lo aqui no Festival do Rio.




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