Publicado em 14/10/2022

O primeiro debate da Première Brasil na quinta-feira (13) foi com a equipe do documentário Kobra Auto Retrato. O jornalista e crítico de cinema Luiz Carlos Merten mediou o papo entre o grande público jovem presente na sala e a diretora Lina Chamie, o muralista Eduardo Kobra, o produtor Vinícius Pardinho e o distribuidor Jean Thomas Bernardini.

Lina recebeu os parabéns não somente pelo longa-metragem apresentado, como também por seu aniversário, comemorado nesta quinta. Após ouvir o “Parabéns pra Você” entoado pelos espectadores presentes no Cine Odeon, ela narrou seu primeiro contato com o artista Eduardo Kobra.

Como amante do espaço urbano – algo perceptível em suas obras, como lembrou Merten – e dos murais paulistanos, Lina era fã de Kobra, mas não o conhecia. Certo dia, a cineasta recebeu um e-mail do jornalista Edison Veiga, perguntando se ela tinha interesse em se encontrar com Kobra, que buscava alguém para filmar sua nova empreitada em Nova York. Lina topou e levou como amostra de trabalho seu filme mais radical: São Silvestre (2013) – “o filme é louco, mas a cidade tá lá”. A proposta do artista se mostrou inviável e Lina sugeriu então fazer um filme sobre ele.

Kobra disse que se emocionou nas duas vezes que viu o documentário, elogiando a veracidade com que Lina capturou sua essência, a fidelidade da diretora aos fatos e sua maestria, sutileza, delicadeza e arte na realização. Completando 35 anos de trajetória num segmento que não tinha muita perspectiva, Eduardo afirmou esperar que o filme mostre que é possível sonhar e que, trabalhando duro, o resultado chega.

O artista foi chamado de “muito generoso e corajoso” por Lina, por ter aceitado entrar na aventura. “Eu tive muita sorte e agradeço [a ele] por ter embarcado nessa, porque é realmente uma incógnita e essa era uma incógnita com uma matéria-prima muito delicada, que é a vida de uma pessoa”, declarou a diretora. Kobra descreveu o processo de filmagem como surpreendente e complexo: “É como o esboço de uma arte que eu tô produzindo. Ela conseguia, como artista, visualizar o resultado final; eu mesmo não consegui”.

Lina, que montou sozinha o longa-metragem e, como sempre faz, dedicou muita atenção ao som, mencionou a importante contribuição do fotógrafo Lauro Escorel na idealização das cores na luz no estúdio. Foram dois dias gravando ali a entrevista de Kobra, ocasião em que ela entendeu o artista, os dois se aproximaram e ela descobriu, pelo som, qual seria o filme. “A primeira anotação [do meu caderninho] era ‘um filme feito com muito amor’ – isso a gente tem que anotar sempre, porque todos são – e ‘é o Kobra com ele mesmo, é o Kobra no meio da noite, com insônia e confrontado com sua própria vida’”, contou a realizadora.

“Nunca tinha imaginado o meu trabalho numa tela de cinema, nada do tipo, mas acho que [o título] Auto Retrato é não só sobre o meu trabalho, mas também um retrato da capacidade da Lina Chamie de transformar histórias em arte”, concluiu o homenageado.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Francisco Ferraz



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