Publicado em 09/10/2016

A atriz Leandra Leal apresentou no Cine Encontro de hoje (domingo, 9) seu primeiro filme à frente da direção. O documentário Divinas divas faz um balanço dos cinquenta anos de carreira da primeira geração de artistas travestis do Brasil. Para dar início à conversa, a mediadora, a jornalista Flávia Guerra, classificou o filme como uma declaração de amor ao teatro e às personagens representadas e questionou Leal com relação à gênese do longa.

A realizadora estreante disse ter ficado impactada pelo talento e pela força dessas artistas quando da comemoração, em 2004, dos setenta anos do Teatro Rival, local onde elas haviam se apresentado no passado e que pertence à família da diretora. Lembrando o longo caminho do projeto, que se estendeu por nove anos, Leal declarou: “Eu agradeço todas as dificuldades que eu passei porque elas me ajudaram a amadurecer”. A diretora falou ainda dos muitos obstáculos enfrentados pela pesquisa, já que há muito pouco material em arquivo sobre a cultura LGBT, ressaltando a importância do resgate dessas performers pioneiras. “Eu queria que as pessoas conhecessem as divas através do meu olhar”, falou, sublinhando sua ligação afetiva com esse mundo desde a mais tenra idade.

David Pacheco, diretor de fotografia, destacou a riqueza imagética do universo por ele captado e confessou sua maior preocupação: retratar o lado humano das protagonistas. Pacheco agradeceu ainda a generosidade das divas: “Nunca me senti invadindo o espaço delas, me senti muito acolhido”, resumiu.

A roteirista e produtora Carol Benjamin definiu como um dos temas centrais da obra a ideia de que os espaços físicos também guardam uma memória, salientando a importância do Teatro Rival e da Cinelândia na narrativa. A montadora Natara Ney também discursou sobre o valor da preservação da memória, e agradeceu profusamente ao pesquisador César Sepúlveda, que cuida do arquivo das divas e cujo auxílio foi fundamental para a realização do projeto.  

 

As personagens do documentário presentes, Divina Valéria, Camille K e Jane Di Castro, se mostraram bastante emocionadas, aplaudindo a sensibilidade da diretora ao reconhecer a relevância do registro dessas histórias: “Geralmente quando a pessoa fica idosa, ela fica no ostracismo. Nós ficamos mais famosas”, brincou Camille K. As divas lamentaram ainda certos retrocessos dos tempos atuais, como a permanência de um discurso homofóbico no âmbito político. “Nós temos que lutar, os gays têm que se unir”, conclamou Jane Di Castro.

Texto: Maria Caú

Fotos: Pedro Ramalho




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