Publicado em 13/12/2021


O curta Fim do dia e o longa O pai da Rita foram os assuntos da segunda sessão com debate da Première Brasil de domingo, 12/12. O crítico Marcelo Müller mediou o papo entre os realizadores Rafael Raposo e Joel Zito Araújo, que logo no início da conversa descobriram compartilhar a dor da perda de suas respectivas mães enquanto faziam os filmes exibidos.

Rafael revela que a morte, há quatro meses, o fez voltar ao material e transformá-lo. Um processo difícil, considerando que o curta Fim do dia é justamente sobre a presença que fica após a partida. Sem imaginar a triste coincidência que estava por vir, o cineasta decidiu desenvolver o projeto após atuar em duas obras de suspense/terror e se surpreender com o público apaixonado pelo gênero, o que despertou sua vontade de pesquisar mais e se lançar criativamente nesse universo.

O pai da Rita pertence a outro nicho, o da comédia, e surgiu de uma investigação que Joel Zito Araújo fazia há tempos sobre a masculinidade negra. Depois da redenção feminina de Filhas do vento, o realizador teve a ideia de filmar a redenção do lado masculino, abordando um dos principais traumas da comunidade negra, que é a ausência paterna. O argumento nasceu em 2006, o dinheiro para desenvolver o roteiro em 2008 e só agora o longa saiu do papel. Milton Gonçalves e Nelson Xavier eram as primeiras escolhas para os personagens, que acabaram rejuvenescidos por necessidade com Aílton Graça e Wilson Rabelo. Dois sambistas malandros, amigos inseparáveis, que em cena têm uma dinâmica bem O gordo e o magro.

Joel assume a pretensão de construir uma cartografia negra do Brasil em sua cinematografia e comenta que aproveitou muito da cena negra paulistana na produção. O tradicional Bixiga - que nasceu e cresceu como bairro negro, os italianos vieram depois - , onde moram os protagonistas, é praticamente mais um personagem e Zito informa que o espaço da escola de samba Vai-Vai visto na trama acabou e sua quadra foi derrubada. A gentrificação, aliás, é uma das críticas mais diretas verbalizadas no longa-metragem e o realizador menciona que se sentia fazendo filme na contramão da História, pois a alegria das pessoas, a solidariedade comunitária e o clima leve da narrativa não combinavam em nada com o que o Brasil vivia na época das gravações.

Por fim, comentando a construção dos personagens principais, Zito observa que foi questionado por colegas feministas a respeito das piadinhas machistas e de um possível risco de cancelamento, mas sua visão é a de quem faz arte e considera "uma traição deixar de se aproximar da realidade porque um segmento se comporta de um jeito que está sendo condenado pela modernidade". Dizendo gostar muito de personagens amorosos e humanos, o diretor analisa que o que desconcerta e torna os dois protagonistas interessantes são suas paixões e o respeito com que tratam as mulheres que os cercam.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Frederico Arruda

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