Publicado em 27/09/2014

O primeiro sábado do Festival do Rio teve como destaque mesa-redonda em torno do longa-metragem de Daniel Aragão, Prometo deixar essa cidade, que faz parte da Première Brasil. O filme narra as dificuldades da ressocialização de Joli (Bianca Joy Porte) após seu retorno de uma clínica para dependentes de drogas. O mediador, o crítico de cinema Rodrigo Fonseca, iniciou os trabalhos ressaltando a emergência de um cinema de gênero no Brasil, representado por títulos como Quando eu era vivo, de Marco Dutra, apontando que a obra de Aragão evoca o cinema de terror de cineastas como John Carpenter, mas o faz ao tratar de temas sociais.

O diretor inventariou essa série de referências, do cinema norte-americano dos anos 1970, ao noir, passando pelos filmes de Rogério Sganzerla. Nesse ponto, Fonseca lembrou que a parceria de Aragão e Joy Porte se assemelha ao relacionamento cinematográfico entre Sganzerla e a atriz Helena Ignez. Diretor e atriz se mostraram felizes com a comparação, e Aragão lembrou que o fato de ele ter operado a câmera durante parte das filmagens contribuiu para o estabelecimento dessa ligação.

Sobre o processo de construção da sua personagem, Bianca Joy Porte, protagonista do longa, sublinhou a importância da pesquisa, contando um pouco de sua experiência de laboratório, em uma clínica de reabilitação de mulheres viciadas e frequentando reuniões dos Narcóticos Anônimos. “Eu fiz questão de me entregar, e não foi fácil”, declarou.

Respondendo às indagações de Fonseca com relação ao cenário de cinema do Recife de hoje, os atores Albert Tenorio e Sebastião Formiga, que fizeram parte do elenco de O som ao redor, falaram das dificuldades de viver de cinema na capital pernambucana, mas ressaltaram o caráter de cooperativa estabelecido ali. “A gente faz cinema entre amigos, o que tem uma alma diferente”, disse Tenorio, ao que Marina Jacob, produtora, completou: “Fazer esse filme sem amigos seria impossível. Isso também caracteriza o cinema pernambucano”.

Jacob revelou ainda que foi justamente essa feição colaborativa que fez com que a produção do filme não fosse difícil. Aproveitou também para elogiar o trabalho de Aragão, que disse admirar: “Ele é um monstro, assina oitenta coisas diferentes no filme”, brincou.

Texto: Maria Caú

Fotos: Luiza Andrade




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