Publicado em 05/10/2015

A segunda-feira (5 de outubro) no Odeon começou com o Cine Encontro sobre Boi neon, longa-metragem de Gabriel Mascaro premiado no Festival Internacional de Toronto e no Festival de Cinema de Veneza, que agora concorre na Première Brasil.

O filme apresenta a trajetória de Iremar (Juliano Cazarré) que trabalha nas vaquejadas, cuidando dos bois, mas sonha em se tornar estilista, e em seu tempo livre desenha e costura roupas.

Pedro Butcher, jornalista e crítico que mediava a conversa, ressaltou o percurso de Mascaro e as relações que enxergava em sua obra, com visões que fogem do óbvio e vão além. “Mascaro é um artista que trabalha com negociação de poder, e a essa altura ele traz um sopro novo para a ficção”, disse. Sandino Vinay, coprodutor argentino, contou que conhecia Gabriel Mascaro há anos, e que, quando soube que o realizador estava procurando parceiros para uma ficção, teve interesse na hora em entrar no projeto.

O diretor explicou que a ideia era fazer um filme sobre o Nordeste que fugisse das representações que o associam ao êxodo e à busca por uma outra vida:  “A gente tem uma memória construída do Nordeste, o sertão, a seca. Eu queria fazer uma história em que as pessoas morassem lá e ninguém quisesse ir embora. É um Brasil que a gente não entende direito, que se modernizou. É a proposta de um Nordeste trazido pro presente, uma abstração de vários mundos possíveis, nesse lugar de contrastes, referências cruzadas, ambiguidade e industrialização. Eu não queria o festejo e nem a condenação. Queria atualizar esse imaginário, essa invenção do Nordeste, sem o olhar viciado ou a caricatura”. Ele ainda lembrou de suas experiências na escola em que estudou no Recife, onde a cultura da vaquejada era forte. Contou que o universo do agronegócio e dos eventos o deixaram impressionado, e que ele nunca imaginou que fosse voltar àquele cenário quinze anos depois para filmar.

A atriz Maeve Jinkings narrou os processos da produção, destacando o convívio intenso e o grande aprendizado. “Esses papéis, essas mulheres que eu tenho feito, elas têm me ensinado muito. Eu escolho esses projetos intuitivamente porque sei que tenho algo a aprender com cada um deles, e eu tenho aprendido muito. Sobre este país e sobre como é ser mulher e ser humano nele”.

Jinkings disse ainda que o processo de preparação foi muito diferente de tudo com que ela estava acostumada, com um laboratório que durou meses e uniu o elenco de maneira profunda. Ela e o ator Vinícius de Oliveira revelaram que, durante os dois meses e meio vivendo em uma fazenda, todos acordavam cedo para se dedicarem às ocupações do lugar, faziam as refeições juntos, jogavam dominó, conversavam e trocavam histórias. O convívio com os locais, pessoas reais daquele meio, foi muito importante para todos. Nesse contexto, escutavam, viam coisas e iam estudando esses comportamentos, anotando falas, decodificando valores e relações.

O público, que fez boas contribuições, apontou o jeito interessante com que o longa aborda questões de gênero, de preconceito, e a naturalidade das interações, colocando a câmera, o tempo e o corpo em negociação e apostando na ressignificação e na quebra das expectativas. Uma jovem na plateia concluiu: “Quando o filme acabou a gente estava sem fôlego”.


Texto: Juliana Shimada

Fotos: Natália Alvim




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