Publicado em 12/10/2022

No segundo debate de terça-feira (11), no Cine Odeon, a professora Ivana Bentes mediou uma conversa entre Marcelo Gomes, diretor de Paloma, e o elenco principal da comovente ficção.

O cineasta contou que o projeto nasceu há dez anos, em Recife, quando ele leu uma matéria de jornal sobre Paloma. Amor, ódio, preconceito, fé, conservadorismo, sonho... Tudo estava ali, naquele conjunto de contradições que a gente vive na sociedade brasileira. Para se preparar, ele leu textos de Paul Preciado e "O Nascimento de Joicy", de Fabiana Moraes, conversou com mulheres trans do agreste enquanto fazia Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar (2019), e chamou Armando Praça, diretor de Greta (2019), para colaborar no projeto. Seu desejo era construir a Paloma ficcional antes de encontrar a personagem real, e seu objetivo era deixar o público emocionado como ele ao ler a notícia pela primeira vez. Por seis meses o realizador pesquisou atrizes trans brasileiras e, por fim, selecionou o grupo que chama de "coração, alma e corpo do filme". 

Kika Sena, que vive a protagonista, disse considerar Paloma transgressora justamente por correr atrás de seus sonhos. "O que a gente espera é que ela não esteja nesse lugar do casamento, dos sonhos. A gente espera que Paloma seja um retrato do que a sociedade brasileira vê para uma travesti, que é a marginalização". De acordo com Kika, Paloma é marginalizada também, mas "não é só uma travesti contando sua história de mulher trans. Ela está ali, de alguma forma, dando espaço para que outras existências possam se reconhecer no corpo dela", contemplando toda nossa sociedade cristã, católica e tradicional.

Lembrando a primeira sessão do longa, na noite anterior, Patricia Dawson, que vive Gaivota, disse que foi incrível ver como a personagem é força e potência. "Na verdade, nós precisamos ser potências no país que mais mata nossa população, mas que ao mesmo tempo consome a pornografia das nossas corpas dissidentes. É triste falar como o amor nos é negado, principalmente nós mulheres pretas, trans, travestis... E a gente precisa mudar isso, é urgente que essa mudança aconteça", declarou a atriz.

Outra integrante do elenco, a cearense de Sobral Wescla Vasconcelos revelou que nunca se imaginou na televisão, pois não via travestis e transsexuais atuando, dando entrevistas e mostrando que era possível viver. Ela, que se reconheceu como pessoa travesti aos 11 anos, destacou a importância da educação em sua trajetória e disse que sua personagem a ajudou a entender o quanto é importante que pessoas trans protagonizem suas histórias.

Marcelo Gomes ainda mencionou a entrega do elenco e a confiança mútua, falando na importância de naturalizar tudo, do sexo ao dia a dia das personagens, investindo numa câmera afetuosa e não conservadora. Sem jamais querer generalizar a vivência de pessoas trans, Paloma faz política pela contação de uma história, afirmou Kika, que comentou também sobre a troca respeitosa, paciente e delicada entre equipe e elenco, onde as atrizes trans puderam falar e foram ouvidas pelo diretor ao longo de todo o processo.

O filme entra em cartaz no circuito comercial dia 10/11.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Francisco Ferraz



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