Publicado em 11/10/2022

O segundo debate da Première Brasil nesta segunda-feira (10) foi sobre o drama Paterno, de Marcelo Lordello. Mediada pelo jornalista e crítico de cinema Luiz Carlos Merten, a conversa teve a participação do diretor, de parte do elenco e de membros da equipe.

Lordello abriu os trabalhos comentando que sua pesquisa cinematográfica tem muito a ver com o conceito de alteridade. “[...] Queria lidar com um personagem que eu atravessasse ele, de alguma forma, a partir de uma aproximação que ele me conduzisse dentro desse universo, dessa masculinidade que você [Merten] define como tóxica, mas eu defino como estrutural”, comentou o realizador. Outra coisa que estava na gênese, segundo ele, era o interesse em pensar na forma como obsessões dominam a sociedade.

“Uma coisa que fui percebendo foi que, de alguma maneira, a narrativa que a gente foi construindo em torno desse personagem e dessa vontade falava muito dessa sociedade, desse patriarcalismo, desse machismo, dessa vontade do lucro, da realização, da afirmação, da competição, que está muito presente na energia do masculino”, ele continuou.

O cineasta também revelou que é graças ao corroteirista Fabio Meira que Marco Ricca está no longa-metragem. Em seu primeiro filme, Eles Voltam (2012), Marcelo usou majoritariamente não atores, mas desta vez sentiu que o texto precisava deles. Fabio achou o personagem Sérgio a cara de Marco e fez a ponte, apesar da descrença de Marcelo de que a parceria seria possível. O ator, no entanto, abraçou o projeto sem se importar com limitações orçamentarias ou qualquer outra coisa.

Marco Ricca contou que gosta de ler os roteiros que recebe integralmente, de uma vez só. Se bate, acha bom e lê novamente para entender o personagem. No caso de Paterno, que o encantou no papel, considerou Sérgio inalcançável e difícil. “É um personagem que, de alguma forma, perde sempre, está sempre perdendo. Ele tem tudo, mas vai perdendo cada vez mais”, avaliou o intérprete.

Filmado em 2017, Paterno tem um elenco de atrizes muito forte e plural, representado no debate por Rejane Faria, Fabiana Pirro e Cláudia Assunção. “Apesar de ter o foco na masculinidade, é um filme muito feminino. [Sérgio] tem a esposa, a ex-esposa, a mãe; o pai tem a amante... Essas mulheres vão passando ali, cada uma sinalizando de uma forma”, observou Rejane.

O editor Eduardo Serrano comentou que a construção foi baseada na tensão claustrofóbica sentida pelo personagem e que a grande missão da montagem foi deixar Sérgio mais encurralado, inclusive optando pelo corte de cenas que o humanizavam. Sobre referências, Marcelo Lordello disse que se inspirou em Dostoiévski, principalmente "Crime e Castigo", em tragédias familiares shakespearianas e no filme italiano As Mãos Sobre a Cidade (1963), de Francesco Rosi.

Texto: Taiani Mendes
Foto: Francisco Ferraz



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