Publicado em 02/10/2014

O Cine Encontro contou com um público numeroso e interessado na Sede do Festival na quarta-feira, primeiro de novembro, para a sessão seguida de debate de O fim de uma era, de Bruno Safadi e Ricardo Pretti. O jornalista do Estado de S. Paulo Luiz Carlos Merten, mediador da conversa, lembrou que o filme faz parte da Operação Sonia Silk, coletivo que rodou três longas de ficção em cerca de duas semanas, com um orçamento de apenas quatrocentos mil reais. Merten destacou ainda a semelhança entre esse processo e o da produtora Belair Filmes, criada por Júlio Bressane e Rogério Sganzerla em 1970.

O realizador Bruno Safadi, que dirigiu um documentário sobre a produtora lançado em 2011, revelou que essa era exatamente a intenção: criar um diálogo com aquele universo de cinema cooperativo que, em apenas seis meses de existência, produziu sete longas-metragens. “Eles eram um contraponto em relação à política oficial do cinema brasileiro da época”, definiu Safadi, que trabalhou como assistente de Bressane.

Com relação à construção da narrativa, que apresenta pequenas histórias de amor, falaram Safadi e Ricardo Pretti, codiretor do longa. O primeiro esclareceu que a obra foi criada de fato na montagem, já que apresenta narrações que surgem sobre fragmentos de imagens produzidas nos bastidores das filmagens dos dois outros filmes do projeto, O uivo da gaita e O rio nos pertence. Já Pretti revelou que o ponto de partida da narrativa era o desejo de reproduzir o clima vivido nas locações desses filmes.

Pretti contou ainda que, para elaborarem as histórias que compõem o filme, ambos pesquisaram a vida de atrizes que atuaram no cinema norte-americano dos anos 1930, como Frances Farmer, Katherine Hepburn, Greta Garbo e Ingrid Bergman, mulheres que eles consideram marcantes e contestadoras. Sublinhando a entrega ao universo da arte que admira nessas atrizes e definindo o filme como um trabalho muito afetuoso, Pretti declarou: “A gente faz arte para viver de forma mais intensa”.

Merten elogiou a textura da fotografia em preto e branco, assinada por Lucas Barbi, que explicou que essa escolha foi guiada pela proposta do filme, já que segundo ele o preto e branco traz uma beleza e um glamour próprios, que remetem ao universo do cinema hollywoodiano dos anos 1930 que serviu de inspiração ao filme.

Ambos os diretores destacaram a parceria com o Canal Brasil, patrocinador do longa, e sublinharam as qualidades das atrizes que participaram da Operação Sonia Silk: Mariana Ximenes e Leandra Leal. Safadi salientou ainda o envolvimento de Leal na produção do filme: “Além de uma grande atriz, ela tem uma veia produtora muito forte”, afirmou.

Ao fim, Ricardo Pretti manifestou o objetivo de construir um cinema que esteja em confluência com as outras searas artísticas e falou da importância dessa relação − com a pintura, a canção popular de amor e a poesia − na estrutura narrativa de O fim de uma era. “Não existe uma só maneira de fazer, o cinema é plural, é preciso se reinventar o tempo todo”, arrematou.

Texto: Maria Caú

Fotos: Luiza Andrade




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