Publicado em 09/10/2022

Após a sessão de Regra 34, neste sábado (08), o grande público presente no Cine Odeon – CCLSR participou de um bate-papo com os principais envolvidos no longa-metragem da Première Brasil, mediado pela professora de cinema Denise Lopes.

Primeira a falar, a diretora e roteirista Julia Murat explicou que começou a pensar na ideia do filme em 2014, 2015, com o desejo de abordar a sexualidade e tentar entender a pornografia, universo que ela não sabia de nada e tinha muito preconceito. Em seus estudos e pesquisas, ela se deparou com uma entrevista da atriz Sasha Grey, em que ela dizia que o pornô é sobre expandir limites. A partir disso a cineasta entendeu o que queria fazer e encontrou a personagem Simone, uma advogada que quer se expor ao risco e descobre o tesão na violência.

Com a eleição de Jair Bolsonaro, a diretora quase abandonou o filme, mas desistiu da autocensura e inseriu nele o contexto político. Murat contou ainda da insegurança de ter uma protagonista negra – originalmente todos os personagens eram brancos, como ela –, pelo risco complexo da sexualização de seu corpo, e ressaltou a importância da atriz Sol Miranda, do ator Lucas Andrade e do diretor assistente & casting Gabriel Bortolini no processo criativo.

Estreando em longa-metragem, Sol afirmou que a personagem surgiu do diálogo e da construção coletiva, e que teve medo ao ler o roteiro. "Acho que essa personagem é muito sobre a possibilidade de, como artista, me encontrar com algo totalmente desconhecido. Simone [...] me transformou, mudou, inclusive, algumas perspectivas sobre a vida, meu próprio corpo, minha liberdade, meus desejos”, ela revelou.

Da plateia surgiu uma pergunta sobre possível continuação e Julia respondeu que não haverá, ressaltando que buscou fugir do moralismo e da ingenuidade em sua abordagem. Outra coisa que a realizadora evitou foi psicologizar as possibilidades de escolhas da protagonista ao longo da trama.

“Essa censura que a gente vive, essa limitação aos nossos corpos na sociedade, faz com que, muitas vezes, não tenhamos nem a possibilidade de pensar em uma investigação do nosso próprio corpo. Enquanto mulheres numa sociedade machista, que tem a cultura do estupro, onde nossos corpos são limitados inclusive esteticamente, onde usar roupa curta abre o desejo da outra pessoa [...], a gente vai se colocando em caixinhas porque o próprio sistema faz isso com a gente. A Simone entende que pode ultrapassar essas caixinhas”, observou Miranda.

Por fim, a produtora executiva Joelma Oliveira Gonzaga destacou que atrizes negras podem fazer qualquer papel, as possibilidades são infinitas, mas ainda existem muitas caixinhas no nosso audiovisual e elas não são consideradas para personagens complexas, como a protagonista de Regra 34, com frequência.

Texto: Taiani Mendes

Foto: Jennifer Oyarce



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